Uma amiga me enviou um scrap dizendo ter visto, num semáforo, um flanelinha usando uma camiseta de um espetáculo que dirigi em 2006, o “LADO B”.
Achei, no mínimo, inusitado. Eram poucas as camisetas, e só foram entregues aos membros da Cia. e à equipe técnica da época. Primeiro imaginei quem teria doado a camiseta a alguma campanha de inverno para descamisados. Pensei se eu mesmo o teria feito. Tenho duas ainda, que uso para ensaios, aulas de dança, enfim, mas talvez tivesse mais.
A camiseta de um espetáculo é o último produto do processo criativo do mesmo. Depois nos serve de lembrança. Teatro pede essas coisas... Depois de pronto, não se encontra nas locadoras, nos brechós, nas galerias, nas livrarias, nas discotecas ou nos antiquários. É extremamente efêmero e por isso ficamos guardando essas evidências que para pouco servem. Mas, de toda forma, faz parte do próprio espetáculo, o que me causou uma sensação gostosa de estar ainda, três anos depois, contribuindo com o mundo de alguma forma através desta peça.
Fazemos arte para nós mesmos – e não se engane quem disser que não – e obrigatoriamente para os outros. De nada adianta uma obra que não seja vista ou experimentada por um público, qualquer que seja. E quando doamos esta parte de nós, que é como um filho, ao público, esperamos que essa obra nunca morra em suas memórias; esperamos que habite seus sonhos, que seja parte do arsenal simbólico de quem a vivenciou. E assim conquistamos, aos poucos, pequenos tecos da eternidade.
Esse pequeno fato, do flanelinha com a camiseta, funcionou para mim como uma provação concreta de que algo que criei realmente se perpetua por aí. E isso me dá uma garra gostosa e me confirma que realmente vale a pena continuar fazendo isso que faço, nem que seja para, no final de todo o esforço, simplesmente vestir um descamisado durante seu trabalho cotidiano.