segunda-feira, 25 de maio de 2009

SIM

Sabe quando um bom sábado gera um bom domingo?
Sábado ativo, como eu gosto... Pegar a estrada, experimentar teatro, rever amiga, rever pai e ser beijado pelo carinho de um disco de Miles Davis, rever irmão e olhar no espelho, pegar estrada de novo, agora ao som do Davis, agora mais bonito por ter maior significado, ver teatro, ouvir jazz nos fundos, rever amigos, terminar a noite comendo temaki e se sensibilizando com a sensibilidade dos outros, com a diversidade do mundo e com o prazer.
Gerou: domingo que começou no meio do dia, que foi ao supermercado, que gritou ‘dia lindo’ pro vento da janela do carro, que fez almoço caseiro com picanha ao shoyo, vinagrete, arroz ao alho, farofinha e quiabo na manteiga, que viu monólogo, que caminhou em noite estrelada sobre o viaduto e parou para ver as luzes e as cores da cidade, que alugou filmes, que voltou ao supermercado, que fez massa caseira de cookies chop-chips e os assou, e os comeu, que chorou em fim de filme, que continuou chorando, que fez declarações de amor caladas para depois dormir sorrindo.

Como gira o mundo quando dizemos sim!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Canis in sinapsis I

Meus dentes coçam e todos os sons e formas do mundo são novos para mim. Sorrio do momento em que acordo ao último suspiro da consciência diária. Expiro instinto e reflexos. Conheço bem o prazer, e da dor só conheço o alívio da cura. Me divirto com a vida em si, com meu próprio corpo, com a passagem do ar entre o mundo e eu, e não preciso de nada além disso. Sinto fome e mato, sinto sede e bebo. Se me canso, durmo. E sonho bem para reorganizar minha caixa de novidades. Não me perguntam o que ando fazendo, porque mal andar eu ando. E além de existir, nada faço, porque não preciso. Porque isso já é fantástico demais para mim.
Sou novo no mundo e já beijo. Sou novo nos beijos e já sei amar. Sei sentir falta do amor. Sei retribuir. Sei ser amado sem culpa quando me desmancho em afagos e afetos. Se quero fico, se não quero, vou embora. Livre e solto, correndo sem destino, sem motivo, sem orientação médica ou estética. Gosto do vento, gosto da chuva, gosto do calor e do conforto. E de todas as respostas que esperam do mundo nas perguntas que insistem em fazer, apenas uma me interessa: por quê dizem que esta vida que tanto me alegra é tão difícil?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Saturnidade

Uma mistura de sentimentos depressivos e temerosos com necessidades extremas de aconchego e proteção. Carência profunda. Sensação de solidão e de desamparo e a vontade contraditória de cavar minha toca e me esconder da sociedade.
Chegou assim meu Saturno, meses atrás. Na realidade, já há quase um ano. Realidade. Palavra que revela muito do que venho buscando e precisando nos últimos tempos; um reencontro com minhas realidades, com minhas origens.
Nunca estive tão família. Tenho sentido desejos imensos de rever fotografias, de ouvir histórias das gerações que me antecederam, de mergulhar na nostalgia da infância e suas primeiras descobertas.
Estou preferindo calor ao frio. Terra ao ar. Pernas a cabeças.
Tenho me reencontrado comigo mesmo diariamente frente ao espelho, e conversado com esta parte de mim que deriva do umbigo, que é essencial de minha personalidade.
Decidi rever meu nome artístico; Santhiago não sou eu. Sou São Thiago, e voltarei a ser.
Lembranças de tempos de colégio, de amizades primárias.
Sincronismos extremamente afiados, que até geram medos; penso e ligam; sonho e recebo notícias.
Estou caseiro, simplificado, profundo e retrospectivo.
Temos um cachorro, agora. Quero cuidar e ver crescer. Estou pensando mais na casa quando estou na rua do que na rua quando estou em casa.
Comprei roupas de cama novas e fofas. Todo um ritual de eremita para rever meus conceitos, minhas pendências, minhas preferências e escolhas.
E todos estão envelhecendo... E meu irmão está mais perto... E sinto os laços outra vez mais fortes...
E meus amigos também estão assim, cada qual em seu canto.
Fase difícil esta, mas necessária e urgente! O louco sai pelo mundo, se constrói, se destrói, testa máscaras, se reinventa, se espalha feito pólen em vento e agora vai juntado os cacos, as peças, as dicas, as memórias, os fatos, para recomeçar de um ponto que não é inicial e que é mais sólido, robusto e pleno de si.
Lindo, lindo, lindo este processo de individuação! Lindo e árduo, senão qual seria a graça?
Pés na terra, olhos no céu, e vamos andando.