quarta-feira, 20 de maio de 2009

Canis in sinapsis I

Meus dentes coçam e todos os sons e formas do mundo são novos para mim. Sorrio do momento em que acordo ao último suspiro da consciência diária. Expiro instinto e reflexos. Conheço bem o prazer, e da dor só conheço o alívio da cura. Me divirto com a vida em si, com meu próprio corpo, com a passagem do ar entre o mundo e eu, e não preciso de nada além disso. Sinto fome e mato, sinto sede e bebo. Se me canso, durmo. E sonho bem para reorganizar minha caixa de novidades. Não me perguntam o que ando fazendo, porque mal andar eu ando. E além de existir, nada faço, porque não preciso. Porque isso já é fantástico demais para mim.
Sou novo no mundo e já beijo. Sou novo nos beijos e já sei amar. Sei sentir falta do amor. Sei retribuir. Sei ser amado sem culpa quando me desmancho em afagos e afetos. Se quero fico, se não quero, vou embora. Livre e solto, correndo sem destino, sem motivo, sem orientação médica ou estética. Gosto do vento, gosto da chuva, gosto do calor e do conforto. E de todas as respostas que esperam do mundo nas perguntas que insistem em fazer, apenas uma me interessa: por quê dizem que esta vida que tanto me alegra é tão difícil?

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