quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Chegou!

Sim, fizemos tudo como manda o protocolo.
Primeiro um jantarzinho, depois um cigarrinho e começamos. Luz baixa, precisava da música certa. Pus pra tocar. As gringas são ótimas, são as melhores nesta época. E são lindas.
Prega de cá, amarra o nylon de lá, estica, desembaraça, sopra pra encher. Desamassa, entrelaça, ilumina. Abre o invólucro, tira de dentro, observa, depois pendura. Sobe na cadeira, chega no ápice, distribui, olha nos olhos, e a música tocando, o disco repetindo a terceira passada.
Lá fora, era como se a neve estivesse caindo. Aqui dentro, como se tivéssemos uma lareira ardendo. E mais aqui dentro ainda, era como se fossemos crianças novamente.
Essa é a parte que eu gosto desta festa. É a parte que não acho triste. Lembrei de minha mãe com seu perfeccionismo, lembrei da espera pela abertura dos presentes. Agora as rédeas estavam comigo. Agora eu mesmo me proporcionava. Agora era ativo, não passivo.
E pra lá da meia noite, com as costas doendo, a música se esvai, e o último cigarro da noite é desfrutado junto à admiração pelo resultado do trabalho. Ficou lindo.
O Natal chegou à minha casa. Guirlanda na porta, apagar as luzes que agora são muitas, e dormir com um sorriso de amor e leveza nos lábios. Boa noite e Feliz Natal.

Por trás

Por trás da soberania, da cadeira de veludo que lhe protegia as costas, o que restou no fim? Será tarde demais para encarar a insegurança por trás da fortaleza? Encarar a tristeza e a decepção por trás do sorriso bege? O destino por trás do controle?
O corpo enfraqueceu e lhe sobra a alma. Alma vivida em quantidade, mas pueril em qualidade. O medo. Os questionamentos. A condição de lidar com o próprio travesseiro, no quarto frio e escuro que repele o sono, e procurar os erros embaraçados na rede da solidão.
Afinal, de que adiantou a postura fixa em altivez e inumanidade, se os ombros agora desejam cair e a vergonha os impede? De que serviram tantas provações se agora o público se foi e não pode mais aplaudir?
Mas os enganos continuam vivos. A mente ainda prega as mesmas peças a fim de aliviar o espírito despreparado. O mundo ainda está fechado pelos muros do castelo de areia. Provavelmente terminará assim sua jornada. Da mesma forma que a começou. Mantendo a burrice do não-sorriso e os equívocos dos valores inúteis. Pobre do que se fez rico mas manteve os olhos cerrados diante dos milagres da vida e das reais virtudes da alma. Pobre de quem tanto suou no palco e não tem quem o aplauda, nem si mesmo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Joseph. Meu nome de golfinho é Joseph.

Queria estar escrevendo mais. Me culpo diariamente por isso. Mas ando muito ocupado ultimamente. Tenho sido golfinho em toda e qualquer hora vaga. Explico.
Descobri um jogo de Internet, desses boquetinhas, em que não se ganha ou se perde, em que se é um golfinho que nada pelos mares afora, salta, chega em Marte, faz acrobacias e coisas assim. Existe a opção “Nado Livre”, sem tempo para esgotar, e isso me pegou em cheio. Bateu direto no meu arquétipo “Fernão Capelo Gaivota”, sabe? Esse voar o mais alto possível, essa liberdade incondicional, esse não pensar em nada... Meu Deus, estou viciado nessa porcaria! Cérebro direito dominando o pedaço. E assim, emburrecido por ser golfinho, não leio, não escrevo, não penso, mas entendo melhor essa geração de gamers e internautas maníacos, em busca do princípio do prazer a todo momento.
E assim estou ultimamente, a quem se interessar em saber: dirigindo peça ali, cantando acolá, enlouquecendo por aqui, já pensando na retrospectiva 2008, já fazendo resoluções para 2009, planejando praia e sol, preparando festas e shows de final de ano, sonhando ouriços, querendo natalinizar minha casa, buscando espaço de trabalho, roteirinizando idéias, morrendo em Veneza, preenchendo formulários, me estruturando para “eu vou estar sendo doutorando”, guiando cheiro de novo, ligando pelo botão, amando, e sendo golfinho!
Pelo menos me sinto um ser humano mais simpático quando sou golfinho...