Gostaria de ter apenas Um cinzeiro
Uma única chave que tudo abrisse ou fechasse
Uma única calça
Uma camisa
Uma cueca
Uma lata de lixo, apenas
Apenas Um fio
Um cabo
Uma tomada
Uma mesa, Uma cadeira
Somente Um livro
Um único canal de televisão
Um filme, Um disco, com Uma música apenas
Uma caneta, de Uma cor
Um pano, Um balde
Uma janela, com Um vidro
Uma toalha, Um lençol
Uma panela, Uma colher, Um garfo e Uma faca
Um prato
Um vaso, com Uma planta
Um regador
Uma revista, com Uma manchete
Preciso ir ao shopping.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Andréa
Penso
Será que ela é moça
Será que é balzaca
Será que é gordinho
Será que é esbelto
O corpo da tal
Se ela é míope ou nem sabe ler
Se economiza ou dá no Natal
Se morde a língua se vai escrever
E se eu quisesse ouvir a sua voz
Penso
Será que ela é rica
Será que é casada
Será que é doutora
Será que é tingida
A parte da tal
Se ela reza antes de dormir
Se fala manso ou é muito formal
Se fecha os olhos ou chora pra rir
E se eu quisesse ouvir a sua voz
Não, não tem nenhuma Andréa por aqui
O telefone toca sem cessar
Essa linha é minha e c´est fini
Ah, diz pro mundo todo parar de ligar
Diz se essa pessoa existe por aí
Penso
Será cozinheira
Será feiticeira
Será que é fogosa
Será que é novela
A vida da tal
Se ela um dia ligar para mim
Se nosso encontro for calmo ou brutal
E se seu tom for linha de cetim
E se eu quisesse ouvir a sua voz
Será que ela é moça
Será que é balzaca
Será que é gordinho
Será que é esbelto
O corpo da tal
Se ela é míope ou nem sabe ler
Se economiza ou dá no Natal
Se morde a língua se vai escrever
E se eu quisesse ouvir a sua voz
Penso
Será que ela é rica
Será que é casada
Será que é doutora
Será que é tingida
A parte da tal
Se ela reza antes de dormir
Se fala manso ou é muito formal
Se fecha os olhos ou chora pra rir
E se eu quisesse ouvir a sua voz
Não, não tem nenhuma Andréa por aqui
O telefone toca sem cessar
Essa linha é minha e c´est fini
Ah, diz pro mundo todo parar de ligar
Diz se essa pessoa existe por aí
Penso
Será cozinheira
Será feiticeira
Será que é fogosa
Será que é novela
A vida da tal
Se ela um dia ligar para mim
Se nosso encontro for calmo ou brutal
E se seu tom for linha de cetim
E se eu quisesse ouvir a sua voz
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
A mudança
E numa linda manhã de sexta-feira:
O novo se torna próprio
O velho se torna virgem
O pó se torna enfeite
A água tornada é vinho
Os calos serão sapatos
Os cortes, meras lembranças
O tempo será zerado
A espera em si batizada
A chave se encaixa e vira
O suor drenado limpa
Vassouras que geram o vento
Que venta no vácuo e volta
A luz, quando acesa, brinda
Os canos ressoam um fato
A rima não existe ainda
No início de um novo ato.
O novo se torna próprio
O velho se torna virgem
O pó se torna enfeite
A água tornada é vinho
Os calos serão sapatos
Os cortes, meras lembranças
O tempo será zerado
A espera em si batizada
A chave se encaixa e vira
O suor drenado limpa
Vassouras que geram o vento
Que venta no vácuo e volta
A luz, quando acesa, brinda
Os canos ressoam um fato
A rima não existe ainda
No início de um novo ato.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
A Prisioneira
Organizava tudo em ordens: numéricas, alfabéticas, arquetípicas, lógicas, genéricas, cronológicas e prismáticas.
Organizava tudo em potes. E em estantes. E em arquivos.
E sua incapacidade de lidar com a perda a tornava uma grande, e gorda, carcereira. Colocava atrás das grades, a beleza do mundo.
Obviamente não toda a beleza do mundo, mas apenas a beleza do seu mundo. O que para ela era belo, era para ela, dela.
O problema era o espaço. Era cada vez mais difícil, apesar de todo byte, kbyte, megabyte e gigabyte, armazenar toda aquela beleza. E por ser eclética por natureza e curiosa por formação, desterrava a beleza, cada vez mais, em tudo, ou quase.
E desta forma, apurava seus sentidos, que percebiam nitidamente um belo acorde em uma terrível canção, uma bela cena em um monótono filme, um belo ângulo em uma escura fotografia. E já era quase impossível evitar seu desejo de tudo possuir. Em seus potes. Em suas estantes.
Depois de engaiolar suas belezas, e de rotulá-las com etiquetas, e de organizá-las em suas ordens, as deixava lá, onde acreditava que deveriam estar. Perto de si. Ocultas, sempre. Apertadas. E de difícil acesso.
Curioso era o fato de nunca mais olhar, ou tocar, ou ouvir, sua bela coleção. Porque sabia que estavam lá, e de lá jamais sairiam. Desta forma, perdiam a cor. Suas belezas eram belas para todos, e ordinárias para ela. Sua rotina estava em descobrir mais e mais daquelas raras belezas, mas não delas desfrutar. A não ser uma só vez. A não ser a primeira.
E no passar dos anos, era cada vez mais difícil encontrar belezas que já não possuísse. O grotesco passou a ser belo, de forma a tapar sua lacuna de incompetência em encontrar a verdadeira beleza.
E ao chegar em casa, uma casa que possuía toda e qualquer beleza do mundo, deitava-se solitária, e feia.
Um belo dia, cinza e chuvoso, dia em que já não mais conseguia pentear seus cabelos ou escovar os seus dentes, ou costurar seus botões ou afiar seu lápis de olho, um belo dia, em um ataque de liberdade e de náusea, decide libertar toda a sua coleção.
Abre os potes, um a um, e olha seus interiores. Assiste aos filmes, um a um, e chora novamente, e ri. Ouve as músicas uma a uma, e dança. Borrifa seus perfumes, um a um, e sente, e lembra. Cozinha suas receitas uma a uma, e degusta, e gosta. Folheia suas fotos, uma a uma, e revive. Rele seus livros, um a um, e goza.
Depois, com uma dificuldade dolorosa, como a de uma mãe que lança seus filhos ao mundo, devolve a todos nós, mundanos, suas belezas. E num ato de bravura e dignidade, as oferece.
Ao voltar para casa, agora vazia, deita-se na cama, repleta de si mesma. E dorme um sono leve. E, depois de muito tempo, acorda com uma sensação estranha e confusa, e percebe, finalmente, que naquela noite, voltara a sonhar.
Levanta-se e sente o primeiro toque dos pés no chão, e vibra como uma tela em branco ao receber a primeira pincelada do que será uma futura obra de arte.
E descalça, e nua, sai outra primeira vez ao encontro do belo, mas apenas para sê-lo, nunca mais para tê-lo.
Organizava tudo em potes. E em estantes. E em arquivos.
E sua incapacidade de lidar com a perda a tornava uma grande, e gorda, carcereira. Colocava atrás das grades, a beleza do mundo.
Obviamente não toda a beleza do mundo, mas apenas a beleza do seu mundo. O que para ela era belo, era para ela, dela.
O problema era o espaço. Era cada vez mais difícil, apesar de todo byte, kbyte, megabyte e gigabyte, armazenar toda aquela beleza. E por ser eclética por natureza e curiosa por formação, desterrava a beleza, cada vez mais, em tudo, ou quase.
E desta forma, apurava seus sentidos, que percebiam nitidamente um belo acorde em uma terrível canção, uma bela cena em um monótono filme, um belo ângulo em uma escura fotografia. E já era quase impossível evitar seu desejo de tudo possuir. Em seus potes. Em suas estantes.
Depois de engaiolar suas belezas, e de rotulá-las com etiquetas, e de organizá-las em suas ordens, as deixava lá, onde acreditava que deveriam estar. Perto de si. Ocultas, sempre. Apertadas. E de difícil acesso.
Curioso era o fato de nunca mais olhar, ou tocar, ou ouvir, sua bela coleção. Porque sabia que estavam lá, e de lá jamais sairiam. Desta forma, perdiam a cor. Suas belezas eram belas para todos, e ordinárias para ela. Sua rotina estava em descobrir mais e mais daquelas raras belezas, mas não delas desfrutar. A não ser uma só vez. A não ser a primeira.
E no passar dos anos, era cada vez mais difícil encontrar belezas que já não possuísse. O grotesco passou a ser belo, de forma a tapar sua lacuna de incompetência em encontrar a verdadeira beleza.
E ao chegar em casa, uma casa que possuía toda e qualquer beleza do mundo, deitava-se solitária, e feia.
Um belo dia, cinza e chuvoso, dia em que já não mais conseguia pentear seus cabelos ou escovar os seus dentes, ou costurar seus botões ou afiar seu lápis de olho, um belo dia, em um ataque de liberdade e de náusea, decide libertar toda a sua coleção.
Abre os potes, um a um, e olha seus interiores. Assiste aos filmes, um a um, e chora novamente, e ri. Ouve as músicas uma a uma, e dança. Borrifa seus perfumes, um a um, e sente, e lembra. Cozinha suas receitas uma a uma, e degusta, e gosta. Folheia suas fotos, uma a uma, e revive. Rele seus livros, um a um, e goza.
Depois, com uma dificuldade dolorosa, como a de uma mãe que lança seus filhos ao mundo, devolve a todos nós, mundanos, suas belezas. E num ato de bravura e dignidade, as oferece.
Ao voltar para casa, agora vazia, deita-se na cama, repleta de si mesma. E dorme um sono leve. E, depois de muito tempo, acorda com uma sensação estranha e confusa, e percebe, finalmente, que naquela noite, voltara a sonhar.
Levanta-se e sente o primeiro toque dos pés no chão, e vibra como uma tela em branco ao receber a primeira pincelada do que será uma futura obra de arte.
E descalça, e nua, sai outra primeira vez ao encontro do belo, mas apenas para sê-lo, nunca mais para tê-lo.
A Insônia
Três e meia da manhã.
As pernas aflitas na cama são praticamente autônomas em sua vontade de alongar-se.
Os olhos fechados passeiam pelas pálpebras em busca da profundidade do sono, mas falham.
Os pensamentos na obrigação de não pensar em nada escapam e divagam. A face de um cão, o cenário de um show, as cenas do filme a pouco assistido, o nariz de uma amiga. A vontade de torcer aquele nariz.
Os olhos se abrem. Escuro. Se fecham. Escuro.
Os travesseiros e lençóis dançam sob e sobre o corpo estirado. Que vira. E revira. Que se encolhe. E se estica. Pensamentos sobre o órgão labiríntico e nossa capacidade de orientação no espaço. De olhos fechados e me mexendo como em uma montanha-russa, sou capaz de identificar o lado direito e o esquerdo. Incrível...
O sono quase me submerge, mas o barulho da rua o espanta.
Três e meia da manhã.
Penso em explodir o prédio ao lado. Penso em calar com as mãos, as prostitutas. Penso em derrubar os helicópteros.
Três e meia da manhã.
Penso em apedrejar os carros. Penso em capotar as motos. Penso em arremessar ovos nos passantes. Penso em assassinar, devagar e a sangue-frio, todo e qualquer emissor de som do planeta.
Três e meia da manhã.
Quatro.
E meia.
Cinco.
Levanto. Abro a janela e me debruço, numa tentativa de me fundir ao barulho da rua. Acendo um cigarro. Apago.
Cinco e meia.
Desespero. As mãos tremem. As nádegas formigam. Os braços doem. A cabeça coça.
Sono. Sono. Busco o sono.
Os sons aos poucos se esvaem. Silêncio. Somente o barulho de um ou outro passo. Já se levantam, os outros. Como dormem?
Pela estreita fresta da janela, surgem os primeiros raios luminosos. O negro se torna cinza, que adota tons pastéis. O dia vai colorindo os móveis, devagar, como uma criança que pinta.
Nitidez. Enfim.
E banhado pela primeira brisa matinal, deixo-me carregar ao profundo relaxamento do que é onírico, e lírico. Por fim, durmo.
As pernas aflitas na cama são praticamente autônomas em sua vontade de alongar-se.
Os olhos fechados passeiam pelas pálpebras em busca da profundidade do sono, mas falham.
Os pensamentos na obrigação de não pensar em nada escapam e divagam. A face de um cão, o cenário de um show, as cenas do filme a pouco assistido, o nariz de uma amiga. A vontade de torcer aquele nariz.
Os olhos se abrem. Escuro. Se fecham. Escuro.
Os travesseiros e lençóis dançam sob e sobre o corpo estirado. Que vira. E revira. Que se encolhe. E se estica. Pensamentos sobre o órgão labiríntico e nossa capacidade de orientação no espaço. De olhos fechados e me mexendo como em uma montanha-russa, sou capaz de identificar o lado direito e o esquerdo. Incrível...
O sono quase me submerge, mas o barulho da rua o espanta.
Três e meia da manhã.
Penso em explodir o prédio ao lado. Penso em calar com as mãos, as prostitutas. Penso em derrubar os helicópteros.
Três e meia da manhã.
Penso em apedrejar os carros. Penso em capotar as motos. Penso em arremessar ovos nos passantes. Penso em assassinar, devagar e a sangue-frio, todo e qualquer emissor de som do planeta.
Três e meia da manhã.
Quatro.
E meia.
Cinco.
Levanto. Abro a janela e me debruço, numa tentativa de me fundir ao barulho da rua. Acendo um cigarro. Apago.
Cinco e meia.
Desespero. As mãos tremem. As nádegas formigam. Os braços doem. A cabeça coça.
Sono. Sono. Busco o sono.
Os sons aos poucos se esvaem. Silêncio. Somente o barulho de um ou outro passo. Já se levantam, os outros. Como dormem?
Pela estreita fresta da janela, surgem os primeiros raios luminosos. O negro se torna cinza, que adota tons pastéis. O dia vai colorindo os móveis, devagar, como uma criança que pinta.
Nitidez. Enfim.
E banhado pela primeira brisa matinal, deixo-me carregar ao profundo relaxamento do que é onírico, e lírico. Por fim, durmo.
O Despertar - Parte III
Meus deuses, me puxem os braços!
Amanhã mesmo eu ponho um sapato, que seja macio.
Meus deuses, me cortem os laços!
Amanhã mesmo eu ligo o motor, que seja veloz.
Meus deuses, enfoquem os traços !
Amanhã mesmo eu ajeito esta face, que seja viril.
Meus deuses, me estendam as mãos!
Amanhã só lhes peço uma bênção, que seja minha voz!
Amanhã mesmo eu ponho um sapato, que seja macio.
Meus deuses, me cortem os laços!
Amanhã mesmo eu ligo o motor, que seja veloz.
Meus deuses, enfoquem os traços !
Amanhã mesmo eu ajeito esta face, que seja viril.
Meus deuses, me estendam as mãos!
Amanhã só lhes peço uma bênção, que seja minha voz!
O Despertar - Parte II
Meus deuses! Estou entalado!
Ontem mesmo passei nesta porta, que hoje estreitou.
Meus deuses! Está apertado!
Ontem mesmo vesti esta roupa, que hoje é vinil.
Meus deuses! Está embaçado!
Ontem mesmo bati esta foto, que hoje borrou.
Meus deuses! Estou entendendo!
Ontem mesmo notei esta testa, que hoje franziu.
Ontem mesmo passei nesta porta, que hoje estreitou.
Meus deuses! Está apertado!
Ontem mesmo vesti esta roupa, que hoje é vinil.
Meus deuses! Está embaçado!
Ontem mesmo bati esta foto, que hoje borrou.
Meus deuses! Estou entendendo!
Ontem mesmo notei esta testa, que hoje franziu.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
O Despertar - Parte I
Meus deuses! A voz está grave, o pés estão longe, as unhas compridas.
Meus deuses! O dia está curto, a noite está clara, a alma bandida.
Meus deuses! Os membros são cinco, os olhos são três, as línguas safadas.
Meus deuses! Os outros são vários, os ovários são muitos, quando muitos são nada.
Meus deuses! Os fios são nevados, os ombros são duros, os joelhos existem.
Meus deuses! A cidade é pequena, os brinquedos são caros, os amigos persistem.
Meus deuses! As cores são tantas, os cigarros são poucos, os corantes não falham.
Meus deuses! As músicas gritam, as vontades não duram, os bíceps malham.
Meus deuses! O dia está curto, a noite está clara, a alma bandida.
Meus deuses! Os membros são cinco, os olhos são três, as línguas safadas.
Meus deuses! Os outros são vários, os ovários são muitos, quando muitos são nada.
Meus deuses! Os fios são nevados, os ombros são duros, os joelhos existem.
Meus deuses! A cidade é pequena, os brinquedos são caros, os amigos persistem.
Meus deuses! As cores são tantas, os cigarros são poucos, os corantes não falham.
Meus deuses! As músicas gritam, as vontades não duram, os bíceps malham.
Nego o Resgate
Ando passando muito tempo comigo mesmo.
Sabe quando convivemos intensamente com uma pessoa, e nos pegamos adquirindo seus trejeitos e jeitos? E passam a gritar mais os defeitos? E começam a se misturar as vibrações, e os acasos são cada vez mais freqüentes? E trocam nossos nomes nas portarias, e vestimos roupas sertanejamente parecidas, quando no máximo invertemos cores de calça e camisa? E assimilamos gírias e pensamentos, e sintonizamos batimentos cardíacos e sinapses, e as vozes começam a ressoar em uníssono? E esgotam-se os assuntos, e potencializam-se as desavenças, e em meio a tamanha sintonia, vêm à tona somente as disfonias, as disritmias, as distimias e as antipatias?
Ora pois, ando passando muito tempo comigo mesmo. E neste caso, não há vítima ou agressor. Sou doador e receptor. Me troco comigo mesmo. Discuto comigo mesmo. Me debato, me divido, me devoro e me regurgito. Preciso de um tempo só, longe de mim. Preciso encontrar os outros, ouvir dos assuntos banais, estar onde, mesmo sem nada falar, não haja silêncio o bastante para pensar. Definitivamente, estou pagando para que me seqüestrem de mim. E aviso: nego o resgate!
Sabe quando convivemos intensamente com uma pessoa, e nos pegamos adquirindo seus trejeitos e jeitos? E passam a gritar mais os defeitos? E começam a se misturar as vibrações, e os acasos são cada vez mais freqüentes? E trocam nossos nomes nas portarias, e vestimos roupas sertanejamente parecidas, quando no máximo invertemos cores de calça e camisa? E assimilamos gírias e pensamentos, e sintonizamos batimentos cardíacos e sinapses, e as vozes começam a ressoar em uníssono? E esgotam-se os assuntos, e potencializam-se as desavenças, e em meio a tamanha sintonia, vêm à tona somente as disfonias, as disritmias, as distimias e as antipatias?
Ora pois, ando passando muito tempo comigo mesmo. E neste caso, não há vítima ou agressor. Sou doador e receptor. Me troco comigo mesmo. Discuto comigo mesmo. Me debato, me divido, me devoro e me regurgito. Preciso de um tempo só, longe de mim. Preciso encontrar os outros, ouvir dos assuntos banais, estar onde, mesmo sem nada falar, não haja silêncio o bastante para pensar. Definitivamente, estou pagando para que me seqüestrem de mim. E aviso: nego o resgate!
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