quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A Insônia

Três e meia da manhã.
As pernas aflitas na cama são praticamente autônomas em sua vontade de alongar-se.
Os olhos fechados passeiam pelas pálpebras em busca da profundidade do sono, mas falham.
Os pensamentos na obrigação de não pensar em nada escapam e divagam. A face de um cão, o cenário de um show, as cenas do filme a pouco assistido, o nariz de uma amiga. A vontade de torcer aquele nariz.
Os olhos se abrem. Escuro. Se fecham. Escuro.
Os travesseiros e lençóis dançam sob e sobre o corpo estirado. Que vira. E revira. Que se encolhe. E se estica. Pensamentos sobre o órgão labiríntico e nossa capacidade de orientação no espaço. De olhos fechados e me mexendo como em uma montanha-russa, sou capaz de identificar o lado direito e o esquerdo. Incrível...
O sono quase me submerge, mas o barulho da rua o espanta.
Três e meia da manhã.
Penso em explodir o prédio ao lado. Penso em calar com as mãos, as prostitutas. Penso em derrubar os helicópteros.
Três e meia da manhã.
Penso em apedrejar os carros. Penso em capotar as motos. Penso em arremessar ovos nos passantes. Penso em assassinar, devagar e a sangue-frio, todo e qualquer emissor de som do planeta.
Três e meia da manhã.
Quatro.
E meia.
Cinco.
Levanto. Abro a janela e me debruço, numa tentativa de me fundir ao barulho da rua. Acendo um cigarro. Apago.
Cinco e meia.
Desespero. As mãos tremem. As nádegas formigam. Os braços doem. A cabeça coça.
Sono. Sono. Busco o sono.
Os sons aos poucos se esvaem. Silêncio. Somente o barulho de um ou outro passo. Já se levantam, os outros. Como dormem?
Pela estreita fresta da janela, surgem os primeiros raios luminosos. O negro se torna cinza, que adota tons pastéis. O dia vai colorindo os móveis, devagar, como uma criança que pinta.
Nitidez. Enfim.
E banhado pela primeira brisa matinal, deixo-me carregar ao profundo relaxamento do que é onírico, e lírico. Por fim, durmo.

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