M.E.T.R.O - Meu Espelho Tornou-se Rotina Obrigatória
É esse o nome do grupo de auto-ajuda para onde Sofia me enviou com aquele número de telefone. Trata-se de um apoio a homens metrossexuais obsessivos.
Quando cheguei ao grupo, no dia seguinte ao telefonema, me senti uma aberração. Meu caso era raro, disseram-me. Ainda não entendi porquê, mas o condutor do grupo disse que já havia agendado uma consulta em uma dermatologista especializada em tratamentos a laser, que iria livrar o meu corpo daquela tatuagem, marca registrada e evidência criminal do meu transtorno. A consulta é amanhã. Hoje volto à reunião.
Enfim, não concordo com nada disso. Sinto-me ultrajado. Mas farei de tudo para ter Sofia de volta.
Desde aquela noite não tenho notícias dela. Recebi apenas uma mensagem, escrita no verso de uma embalagem de preservativos tamanho médio com o mesmo batom dourado, que dizia: estou ótima. Pobre Sofia. Deve estar passando por dificuldades desumanas e não quer me preocupar. Deve ter revirado latas de lixo para encontrar superfície digna para me escrever.
Tenho vivido minha rotina normalmente. Apenas limpando a casa quatro vezes ao dia, ao invés de três. Quero cheiro de jasmim quando ela regressar.
Preciso vomitar.
Voltei. Ando extremamente nauseado ultimamente. Deve ser a ausência de meu amor.
Michele está me intrigando. Desde que Sofia se foi, faz-me visitas diárias. Traz-me quitutes, sucos e lenços umidecidos. Ainda não concluí suas intenções. Estou deixando as coisas andarem, deixando-a à vontade. Digo e repito: tenho pulgas atrás das orelhas por Michele.
Preciso vomitar.
Não saiu nada. Só água. E um pouco de gordura que deu um ar purpurinado à secreção expelida. Ah, as belezas e perfeições humanas.
Pêsames à mim, por minha tatuagem, por meu belo presente desdenhado. Olho para ela a todos os momentos sabendo que são os últimos, sabendo que, em seu lugar, uma horripilante cicatriz habitará meu peito.
Te espero, Sofia. De braços abertos e tonificados. Te espero com cãimbras, tremores e vontade insana de urinar. Meu amor... Minha titã... Meu ar!
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