Há pouco menos de um mês, a convite de amigos queridos, pude conhecer uma cantora cubana - a Yusa. Não sei porquê (e não foi só pelo talento excepcional), mas o show da moça me pegou de jeito. Saí mexido, animado, animexido... Saí no meio do segundo show da noite que se seguiu ao dela e encontrei com ela no saguão do Auditório do Ibirapuera, tirando fotos com sua equipe tendo a parede de palato mole do Niemeyer de fundo.
Eu sabia que venderiam CD's na saída, mas eles ainda não estavam arrumados. Pedi os CD's. A produtora dela foi buscar, trouxe, comprei, ela autografou, ela agradeceu, eu é que agradeci. E fui. E coloquei no carro. E desde então ele não saiu mais de lá.
..., desses presentes que a vida nos dá. Então, Yusa, com sua permissão, pretendo te dar de presente - vou compartilhar essa linda criadora de músicas, como meus votos de um Ano Novo alegre, criativo e saudável!!
Abaixo, o refrão da "Tardes de Café", que diz tudo o que te desejo nestas festas!
Tardes de Café (Kelvis Ochoa)
Que toda la alegria anide siempre para ti
Que broten corazones al pasar
Nene, esta canción es solo para que
Las aves de tu alma vuelen aunque yo no esté
(Que toda a alegria se aninhe sempre em você
Que brotem corações ao passar
Meu bem, esta canção é só para que
As aves de sua alma voem mesmo que eu não esteja)
Feliz 2013!!!!!
PS.: O vídeo é apenas uma apresentação da cantora. Queria a música que citei acima, mas não achei com boa qualidade! Procurem baixar!
O CD chama "Libro de Cabecera, en Tardes de Café". Uma outra predileta é a versão de 'Close to You' (Burt Bacharach) que é a coisa mais linda e singela!
Para ouvir o CD, clique aqui!
O amor não nasce do dia pra noite; essa é a paixão, que da mesma forma que vem, vai, e volta quando bem entende, e brinca com a gente. O amor nasce de um gesto bem colocado, de um espreguiçar, de palavras consistentes, de um brinde. Nasce de um sorriso malicioso, de piadas internas, de uma lágrima acolhida. E depois que nasce, não vive só de luz. O amor se nutre de tudo, inclusive da ira, inclusive da mágoa, desde que sempre temperadas com cumplicidade abundante. O amor não é vegetariano, é carnívoro feroz, não mede calorias e não teme o colesterol. Precisa de água, mas prefere os etílicos; aprecia os modismos, mas escolhe o conforto. Aos dois anos acha que anda sozinho, mas tropeça. Aos três elabora promessas, aos quatro delimita os espaços, aos cinco arruma o quarto, aos seis se confunde em si mesmo, e aos sete... Ah, aos sete! Aos sete anos o amor já debate, já dialoga, já se reflete; já carrega um guarda-chuva, mas nem sempre usa, porque não quer, não porque não sabe. Aos sete anos o amor já planeja, e executa; já aprendeu a recuar e entendeu que muitas vezes a não-ação, a compreensão, é a melhor reação. Aos sete anos ele aprende a pedir e também a negar sem o medo de ferir; aprende o ritmo, a harmonia, a dança, e que a melodia pode ser melhor que a letra. Que os próximos sete sejam transformadores e transformados. Que sejam ainda mais amados, pela alma, pela cama, pela calma. Te amo, mais e tanto!
Uma das minhas atividades preferidas no dia do meu
aniversário é dar uma olhada nos posts antigos e perceber a força do potencial
de transformação do tempo.
Muitas vezes me pego falando: 4 anos é muito tempo entre os
15 e 19 anos, mas não faz tanta diferença entre os 30 e os 34. Que grande
bobagem! 1 ano já faz toda a diferença, entre qualquer idade. É impressionante
o quanto evoluímos (e às vezes até involuímos) num período de 12 meses.
No meu caso, só posso agradecer por evoluções, ao menos sob
meu ponto de vista. E sendo o meu ponto de vista sobre mim mesmo o qual, noves
fora, realmente importa no final, sigo agradecendo.
Sempre penso no quanto seria interessante me encontrar com o
eu-mesmo de um ano atrás. Facilitaria tanto a vida deste eu-mesmo. Daria tantos
gabaritos de pensamentos vãos ou pertinentes, de ideias boas ou bobas, de
preocupações úteis e inúteis, de decisões acertadas ou nem tanto. E tais
conselhos seriam mais evolutivos para o eu-mesmo de agora do que para o de um
ano atrás, certamente. Porque para mim servem como aprendizado. Para o outro,
serviriam apenas como proteção que o impediria de seguir adiante, de errar.
Errar como sinônimo de seguir... Gosto tanto destas habilidades da linguagem.
Hoje, do alto dos meus 32, estou em fase de empreendimentos.
Ainda na insistente vontade de obter controle sobre meu futuro, tentando
construir abrigos que sei serem feitos de areia fina, me permito a cada dia
assumir uma fraqueza diferente, dizer um ‘isso não é pra mim, deixa para os
outros’, abrindo dia a dia uma nova brecha no limo da janela da minha própria,
única e peculiar existência. O que é meu? O que sou eu? O que estou eu?
A vida aos 32 se arrasta mais lenta, mais densa, mais calma,
o que não a torna de modo algum menos intensa, menos viva, menos brilhante do
que a dos 22. Aos trinta e dois as coisas passam de modo que eu realmente as
posso tocar, sentir, me lambuzar, me misturar com elas, para depois filtrá-las,
deixando o que me vale ficar, e o que não é meu ir embora.
Aos 32 é tudo mais tridimensional, as perspectivas são mais
óbvias e menos frustrantes, o lado sombrio se torna parte integrante da gravura
e não mais apenas um truque da arte. As cores são mais harmônicas e, quando
bregas, são escolhas conceituais e não tanto excessos por falta de prática, por
tentativas acumuladas de obter acertos. Acertar... Verbo cada vez menos
presente. Acertar não ter de acertar... Verbo cada vez mais presente.
E em minhas viagens pelo planeta, um desejo próximo de se
concretizar de ir chegando cada vez mais perto do oriente. Orientado,
orientando a trajetória. Nos primeiros dias deste 33o ano, visito o
estreito que nos separa (separa?), visito as terras daquele cujo nome é dado à
idade que começo a percorrer.
Cambia... Todo cambia! A essência se purifica a cada
segundo, a cada lágrima, a cada riso. Minha mãe costuma dizer que eu já nasci
preocupado. Continuo tentando me ocupar desta pré-ocupacão. Digo que nasci de
alma velha, e entre meus boleros ouço a cada dia que mais pareço um menino do
que um doutor.
Sendo assim, este menino-doutor, doutor-menino, se despede
destes 32 para dar o primeiro passo no infinito dos 33. Que a tal evolução
prossiga.
E que prossiga mesmo, porque apesar de toda ela, continuo
achando um disparate alguém me ligar no dia do meu aniversário, que não seja
para me dar os parabéns!
Afinal, sabendo que não sou o centro do mundo, e que ninguém
é – se é que existe um centro – hoje, só hoje, ainda me permito ser, humano!
Cambia lo superficial Cambia también lo profundo Cambia el modo de pensar Cambia todo en este mundo
Cambia el clima con los años Cambia el pastor su rebaño Y así como todo cambia Que yo cambie no es extraño
Cambia el mas fino brillante De mano en mano su brillo Cambia el nido el pajarillo Cambia el sentir un amante
Cambia el rumbo el caminante Aúnque esto le cause daño Y así como todo cambia Que yo cambie no es extraño
Cambia todo cambia Cambia todo cambia Cambia todo cambia Cambia todo cambia
Cambia el sol en su carrera Cuando la noche subsiste Cambia la planta y se viste De verde en la primavera
Cambia el pelaje la fiera Cambia el cabello el anciano Y así como todo cambia Que yo cambie no es extraño
Pero no cambia mi amor Por mas lejo que me encuentre Ni el recuerdo ni el dolor De mi pueblo y de mi gente
Lo que cambió ayer Tendrá que cambiar mañana Así como cambio yo En esta tierra lejana
Cambia todo cambia Cambia todo cambia Cambia todo cambia Cambia todo cambia
No metrô, voltando do trabalho. Naquelas fases da vida em que os rumos se perdem um pouco, os focos embaçam, e o túnel se prolonga, mais escuro, tornando a visão da luz do fim menos aguçada. No metrô, no túnel do metrô, cansado, não-grávido, não-idoso, não-deficiente físico, por sorte (ou mérito?) sentado em assento não preferencial. Pensando nesta vida arborizada, difusa, solúvel e aguada. Pensando no sentido a seguir; ou apenas no sentido; há um?
Em outro assento não-preferencial, ao meu lado, uma senhora aparentando seus 60 anos, mas com voz de 50 (voltando do trabalho?). Veste roupas baratas, sandálias rasteiras com bijuterias falsas como adornos, dando evidência aos pés calejados de unhas mal feitas e sujas; calça de algodão marrom; blusa estampada em tons dourados (ou beges?), como a pele de uma jaguatirica desbotada pela exposição prolongada ao sol; cabelos louros, artificialmente mal pintados por ela própria, em corte reto numa altura indefinida, que não chega aos ombros, tampouco ao Chanel.
Bolsa apoiada nos joelhos. Ela acaba de fechar um pacote de presente da Hering que está em seu colo, entre o peito e a bolsa. Em seu pescoço, um Espírito-Santo dourado pende em excesso por fora da blusa, em cordão do mesmo tom, nem longo, nem curto, em altura tão indefinida quanto a dos seus cabelos.
Ela pega um celular na bolsa, disca. Alguém a atende. Ela agradece entusiasticamente pelo presente que acaba de conferir. Ela adorou. Fala alto. Será que havia um bilhete pedindo que ela só abrisse no caminho de casa? Será que foi dado às pressas, no centro da plataforma, por alguém que entraria num trem que iria para o sentido oposto do nosso? Ela amou o presente. Ela gostou muito. Adorou mesmo. Ela agradece. Sorri. Agradece e sorri. Não, não sorri. Ela ri. E rindo começa a falar de um viagem que fará, provavelmente com a pessoa do outro lado da linha. O presente tinha a ver com a viagem? Ela descobriu a viagem pelo presente? O presente é o presente ou a própria viagem? Ou os dois?
Para onde ela vai? Quando? Fala do lugar onde ficará hospedada. Ela está leve. Está muito feliz com os novos planos. E consegue levar consigo um pouco do meu cansaço e da minha vã filosofia. Seus novos planos me aliviam.
Não sei se ela sabe para onde vai. Talvez não soubesse, assim como eu, até aquele momento. Mas acaba de descobrir um novo destino, com data marcada. E essas luzes fugazes que nos aparecem nas laterais do grande túnel, que passam velozes na marcha do trem, vão dando novos sentidos e rumos quando conseguimos agarrá-las. Ou quando nos são presenteadas. Acho que se há um sentido, é este mesmo, ou melhor, são estes.
Se a luz do fim é o próprio fim, e se nunca a enxergamos em plenitude senão na hora H, talvez devamos parar de procurá-la, e assim olhar mais para os lados luminosos e menos para a frente escura.
No metrô, sentado, voltando do trabalho. Olho para o lado e ganho o presente de um sentido volátil para a vida, que no redigir destas palavras já se perdeu. No metrô só há janelas laterais. Se olharmos à frente, jamais saberemos para onde estaremos indo.