A: Seu troco, senhor.
S: Obrigado.
A: Próximo, por favor. Nota fiscal paulista? Cartão fidelidade?
S: Ah, desculpe - olhando a nota, depois de já ter aberto uma das latinhas de Skol que acabara de guardar na sacola plástica - o que é isso aqui?
A: É sua salsicha, senhor.
S: Mas tá errado - um gole de cerveja - lá dizia que custava 2,50. Aqui tá marcando 4,25.
A: Não, senhor - analisando a salsicha - o valor é esse mesmo.
S: Não, está errado. Lá dizia 2,50 - mais um golinho da cerveja geladinha.
A: Só um minuto.
Ele sai de trás do balcão. A fila atrás de mim cresce. O moço da salsicha continua sereno, bebendo sua cervejinha.
A: Senhor, é isso mesmo. O senhor leu errado. 2,50 é a Salsicha Compre Bem. O senhor pegou a Sadia, que é 4,25.
S: Mas lá estava marcando 2,50.
A: Sim, estava marcando 2,50 e escrito "Salsicha Compre Bem". A Sadia é outro valor.
S: Então não vou levar. Vou devolver - e outro gole sereno.
A: Só um momento. Oh, Luis, cancela aqui pra mim.
Vem o Luis.
Luis: O que foi.
A: Este senhor pegou a salsicha errada. Ele achou que custasse 2,50.
S: Mas custa 2,50.
A: Não, senhor. Esta aqui não custa 2,50. Esta é a Sadia, custa 4,25. A de 2,50 é a Compre Bem.
Luis: Não dá pra cancelar. Já fechou a nota. Oh, Gislene, vem aqui um pouco.
Vem a Gislene. Eu na fila. Ah, este era o caixa 10 volumes.
Gislene: O que foi?
S: Lá estava escrito 2,50 e na nota saiu 4,25.
A (já bem alterado): 2,50 é a Compre Bem. 4,25 é a Sadia. Ele pegou a Sadia, achando que era 2,50.
S: Eu não vou levar - a latinha de cerveja já quase acabando.
Gislene: Não dá pra cancelar o item. Precisa cancelar a compra toda e devolver 4,25 pra ele. Depois precisa passar a compra de novo, sem a salsicha. O senhor não vai querer a salsicha, né?
S: É 4,25 ou 2,50?
Gislene: Depende da salsicha, moço. A Compre Bem é 2,50. O senhor vai querer a Salsicha Compre Bem?
S: Não, eu queria essa daqui. Tava escrito 2,50, mas aqui saiu 4,25, então não vou querer. Vou devolver.
Gislene: Tudo bem. Cancela a compra dele, devolve 4,25 e depois passa tudo de novo, sem a salsicha. O senhor não quer mesmo a Compre Bem?
S: É 2,50 ou 4,25?
Gislene: É 2,50.
S: Então porque saiu aqui 4,25?
A: Porque essa não é a Compre Bem! A Compre Bem é 2,50. Essa é a Sadia. O senhor quer que a gente pegue a Compre Bem?
S: Não é essa aqui?
Gislene: Não, essa é 4,25. A Compre Bem é a outra.
S: Quanto é a outra?
A: 2,50.
S: Não, não vou querer não. Vou devolver.
A: Tudo bem, Gislene. Obrigado.
Era uma segunda-feira. Fim do dia. As filas ao lado estavam enormes, enormes. Eu tinha menos de 10 volumes. Eu não merecia passar pela saga da salsicha. Até uma velhinha japonesa, com um chapéu de palha pendurado no pescoço se irritou e saiu da fila. Havia um silêncio constrangedor, um absurdamento latente, mas ninguém falava nada. Ou esperava, ou desistia, e ele bebia cerveja, como se aquilo fosse uma conversa de boteco. Eu estava com um sentimento estranho: um mix de raiva, indignação e alegria. Aquilo foi estranhamente engraçado.
Um fato importante. Não aconteceu no Rio de Janeiro. Aconteceu em São Paulo mesmo.
2 comentários:
Mas afinal... quanto é a Sadia?
Morri de rir!!!!!!!!!! Imaginar a cena é essencial! :)
Bjo!
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