segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Folhetim Vagabundo - Capítulo 4



Leia antes os capítulo anteriores!

Capítulo 1 - no blog Impressões em Desalinho

Leia agora o quarto capítulo da primeira história do projeto.

- Alô. Oi, sou eu. (...) Como quem? Bárbara, quem mais poderia ser? Ela caiu! (...) Não, desmaiou! Tá aqui estatelada no chão da sala. (...) Ah, meu querido, também o que você esperava? Você pode me explicar esse pedaço de picanha? (...) Não, ‘veja bem’ não! Combinado é combinado! Te disse mil vezes para colocar o olho esquerdo da última na caixa. Era verde acinzentado, lindo! E você faz o quê? Coloca um pedaço de picanha descongelado! Puta que o pariu, que pobreza é essa? Depois pergunta por que os jornais pararam de cobrir! Que decadência! (...) Não, Estevão, qualquer coisa que você disser vai te fazer ainda mais patife! (...) Que tivesse me chamado, então, que eu arrancaria aquele olho com colherinha de café, meu bem! (...) Tá, então da próxima vez a gente muda essa divisão de tarefas. (...) Ué, fácil! A gente passa a procurar por homens desesperados, eu fico posando de gostosa exibicionista, pinto um quadro seu pra botar na parede, e no dia da coleta você não precisa fazer nada. Deixa a mutilação e a preparação da caixinha comigo. Você só vem retirar a mercadoria. (...) Valei-me Deus, Estevão! A mulher da semana passada ainda está fresquinha. Me poupe dessas frescuras de cheiro de cadáver. Peidou na tanga, isso sim! (...) Sei. (...) Sei. (...) (...) (...) Bom, então tá. Quando for o olho, deixa comigo, que eu não ligo a mínima pra essa frescura de janela da alma. (...) Exato, quando for outra parte, você faz. Tá bom assim, fofo? (.) Então ótimo. Agora me diz o que eu faço com essa? (...) Como pula? Não dá pra ficar uma semana sem. Você sabe das minhas crises de abstinência. (...) Ah, que genial! Mato ela e deixo aqui, no meio da sala? (...) Mas isso vai exatamente contra nosso propósito, Estevão. (...) Eu sei que ela quer morrer. Aliás, são 47 cortes, viu, não são 48. Isso, 47. É, ela é igual à terceira de maio. (...) A ruiva, sardenta, que também tinha um corte para cada ano de vida. (...) É, interessante, né? Deve ser um tipo de padrão. Que bonitinhas. (...) Mas enfim, você acha que eu acordo ela pra você vir pra cá, ou você come mesmo assim? (...) Tá. (...) Tá bom. Vou amarrando na cama, então. (...) A calcinha? Peraí. Já tá sem calcinha. (...) Tá, coloco. Que cor? (...) A de renda ou a sem costura? (...) Tá bom. (...) Espera um pouco. Não, tá sem perfume. (...) Peraí, vou ver no banheiro.

Esperava qualquer chance para abrir os olhos. Finalmente. Aquilo não poderia estar acontecendo. Já tinha lido nos jornais sobre os Assassinos das Mulheres Desesperadas. Psicopatas que perseguiam mulheres carentes e de tendência suicida, mantinham um jogo sutil de voyerismo e exibicionismo com elas, e em determinada noite invadiam suas casas com um presente - sempre parte do corpo da última vítima - faziam-nas gozar de prazer até a última gota, envenenavam-nas com arsênico e levavam-nas, mortas, até uma espécie de cativeiro, repleto de vitrines cujas manequins pareciam estar embalsamadas, nuas, cada qual em uma pose diversa do grande livro oriental de sexologia, o Kama Sutra. Nos apartamentos vazios, a polícia e os jornais encontravam apenas a caixinha de presente, o próprio presente, e as seguintes frases, escritas com batom vermelho no espelho do banheiro da vítima: “Esta noite teve sol. Mais uma vida salva. Para mais informações, acesse nosso blog: www.luznofimdotúnel.blogspot.com. Obrigados pela presença. A.M.D.” Apenas uma vítima havia conseguido escapar do cativeiro. Era tolerante ao arsênico, por uso e abuso da substância desde os dez anos de idade, em tentativas múltiplas e frustradas de suicídio. Havia entrado para um convento na semana passada, segundo os jornais.
Nunca imaginou que poderia acontecer com ela. Nunca se enquadrou na descrição das vítimas. Ah, a negação. Sempre o primeiro sintoma.
Precisava agir. A primeira coisa que viu ao abrir os olhos foi a faca suja de sangue debaixo do sofá. Estava confusa. Vindo do banheiro, ouvia:

- Afe, Estevão. Só tem perfume barato. Não quer trazer um dos meus, não? Traz o que você me deu de aniversário de casamento. (...) Mas qual é o problema em sentir meu cheiro nela? Não é essa a idéia disso tudo? Dar uma levantada na nossa vida sexual? Então... (...) Ah, sei. (...) Não, depois não. Vamos conversar agora. Se nem isso está dando certo, o que você pretende? Daqui a pouco vai querer que eu implante um pinto! Faça-me o favor! (...) Não, não estou louca. É você que é um brocha! Acho bom vir logo pra cá terminar esse seu ritual, que eu estou perdendo a paciência. Deixei todas as minhas amigas jogando tranca sem mim porque topei entrar nessa...

A mulher do quadro estava voltando. Não se lembrava mais da posição que tinha adotado quando fingiu o desmaio. Finge de morta!

- ... Estevão. Que estranho. Acho que ela mexeu. Sabia que essa picanha traria mau agouro. Vem logo pra cá. Tá. Tchau.

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- Samantha, sou eu, Ricardo! Você desligou o celular? É a décima terceira mensagem que eu te deixo. Liga pra mim, agora! Preciso de você. Preciso ouvir sua voz. Não consigo dormir sem seus beijos. Não, melhor... Não precisa me ligar, não. Estou indo pra aí.

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Bárbara correu ao quarto de Samantha em busca da calcinha desejada por Estevão. Ainda precisaria despí-la do roupão, vestir-lhe a tal calcinha, passar-lhe o batom vermelho, carregá-la até o quarto, amarrar-lhe os punhos na cabeceira da cama, dar um jeito de acordá-la, e, provavelmente acalmá-la. Pensava se prepararia um chá de camomila para isso, ou se uns tapas na cara resolveriam. Não! O chá! O chá seria melhor! O que uma mulher não faz por um pau duro na cama matrimonial!

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- Samantha, sou eu, Ana. Te esperei na balada até agora. Estou bêbada! Preciso de você. Preciso do seu cheiro. Por que você não me atende, Samantha? Você não me ama mais? O porteiro me disse que o Ricardo tem freqüentado seu apartamento. Pode me explicar isso, Sá? Pode? Ah, que ódio de você, Samantha. Quanto amor eu sinto! Acho bom você estar em casa. E sozinha. Estou indo pra aí.

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Aquele corpo havia se mexido de novo. Bárbara tinha certeza. Não podia estar enlouquecendo. Com a calcinha em uma das mãos e o batom vermelho na outra, abaixou-se para arrancar-lhe o roupão.
Maçaneta. Porta-aberta.
Sem olhar para trás:
- Que demora, Estevão! Como você é lerdo, sua lesma brocha! Achei que...
Ao abrir o roupão, notou uma faca na mão direita da futura vítima. Olhou para a porta, no tempo exato de ver a faca lançada se alojar no coração de quem entrava.
Ainda ao som do grito assustado de Bárbara, Samantha a arremessou ao outro lado da sala, e olhando para o corpo esfaqueado, já de joelhos, ainda de olhos abertos, sangue jorrando da boca segundos antes de cair ao chão, esgoelou-se num terrível:
- Nããããão!



Curiosidade também pode matar!
O próximo capítulo você encontra amanhã, sexta-feira, no blog de Marina Franco, "Olhos Recém Nacidos": http://olhosrecemnascidos.blogspot.com/

Boa leitura!

7 comentários:

Tatiana disse...

Muito, muito bom, caríssimo Du! heheheheh
Adorei!

Eduardo disse...

Hahahahaha! Valeu, caríssima Tati!!! E me aguarde!! Ainda vou te dar o troco dessa picanha!!! Hahahaha
Beijos

Marina F. disse...

Arrasou, Dú. Ai tenho tanta coisa na minha mente pérfida que nem sei pra onde vou....hehe...aguardem!
bjs.

Ju Hilal disse...

Ai meu Deus.... Tô me coçando aqui.
Arrasa, Má.
Beijos

Menininha bossa-nova disse...

Hahahahahahahahahahahahaha...

Gentes, socorro!

Vocês são muito, muito, muito mais insanos do que eu pensava. Depois a louca sou eu. Hahaha. Sei, sei...

Tatiana disse...

Du, troco de picanha...vixe...acho que vou adorar...he he he

Luli disse...

Du, mandou bem companheiro! Deu um jeito de colocar todos os personagens no mesmo lugar e a Ma soube dar continuidade. Ótimo!

PS. Já perceberam que só a gente lê essa bosta...ahahahaha