terça-feira, 20 de outubro de 2009
Folhetim Vagabundo - História 3 - Capítulo 2
Leia o primeiro capítulo aqui!
Capítulo 2 - Aquele que vem antes do penúltimo!
- Tá! E aí?
- Não entendeu?
- Entendi, bobinho. Deus destruiu tudo, menos ele mesmo. Um pouco egocêntrico, eu diria. Tenho certeza que Deus é leonino!
- Não, ele não destruiu tudo. As coisas foram parar em um buraco negro sem a sua concessão. Ou seja, há coisas mais fortes por aí, mais fortes do que a própria vontade divina.
- E quem é essa pessoa que chegou chegando?
- Pois é, essa pessoa é...
- Foi você mesmo que escreveu isso?
- Fui.
- E por que você trouxe isso hoje, justo hoje?
- Porque fui eu que escrevi. Nós escrevemos o que sentimos. Ou quando temos uma mensagem importante para passar adiante!
- E...?
- E... E é isso!
- Como assim, Matheus Ricardo? Onde você quer chegar?
- Eu não...
- Olha, precisamos conversar sobre a tragédia de ontem. Eu sei que te devo explicações, mas você também precisa se explicar, Matheus Ricardo!
- Por favor, traz mais uma garrafa pra gente?
- Do mesmo vinho, senhor?
- Do mesmo vinho! Ou não! Não, melhor, é tempo de variar!
- Sim senhor, vou trazer a carta.
- Obrigado.
- Já sabem os pratos?
- Eu vou querer a lagosta, por favor! Adoro o gritinho dela quando cai na panela.
Matheus Ricardo temia mais fortemente, a cada segundo, a reação dela.
- Muito bem, a lagosta para a senhora. E para o senhor?
- Eu vou querer a picanha argentina de altíssima qualidade, por favor.
- Muito boa pedida. Volto já!
Matheus Ricardo hesitou um pouco, respirou por coragem e disse:
- Enfim, Maura Rubia, onde estávamos?
- Você estava variando de vinho e pedindo sua carne.
- Sim, sim... Não, não, antes disso.
- Antes disso eu não estava entendendo nada! Matheus Ricardo, posso saber o porquê dessa variação de vinho?
- Estou precisando variar. Estou na fase da variação de minha vida.
- Sei...
- Maura Rubia, nossa vela apagou!
- Xi, é mesmo... Chama o garçom que ele traz outra.
- Não, Maura Rubia. Estou falando da nossa vela!
- Eu realmente estou te achando um pouco estranho hoje, Matheus Ricardo. Primeiro esta redação que você me traz, falando de Deus. Sei que religioso você nunca foi. Segundo, essa gafe de variar de vinho numa mesma refeição. E terceiro, essa ênfase no pronome possessivo que você deu acima. Você nunca foi homem de ênfases. Se há uma coisa que nunca vi você fazer nesses seis anos de namoro, é dar ênfases.
- Já entendi. Você foi bem enfática. Enfim, o que eu pretendo te...
- Peraí, você está debochando da minha cara? Na minha frente? No dia do nosso noivado?
- Para com isso, Maura Rubia. Foi só um pequeno sarro.
- Acho melhor você passar a aliança para cá e pedir logo essa conta. Nesta noite não haverá sol, meu rapaz! É daqui pro berço! E cada um no seu!
- E se eu te disser que não há aliança?
- Como assim não há aliança? Vai me dizer que você foi incapaz o suficiente para esquecer a aliança em casa?
- Não, Maura Rubia, não é isso... Pra onde você tá ligando?
- Pra sua mãe!
- Minha mãe?
- Sim, senhor... Que educação foi essa que ela te deu?
- Desliga esse telefone, Maura Rubia. Desliga.
- Não.
- Ela deve estar dormin...
- Alô? Sou eu, dona Jacintha. Preciso te pedir um favor. Como assim? Sim, no restaurante ainda. Como assim, “sozinha”? Nós viemos juntos. Sim, ele está aqui, por que não haveria de estar? Sua mãe é tão louca quanto você. Nós vamos casar e mudar para a Nicarágua, escreva o que eu estou te dizendo. D. Jacintha, desculpe, não estava ouvindo. A ligação tá falhando. Escuta, o motorista da senhora ainda está acordado a essa hora? Não, é que eu queria te pedir um favor. Pede para ele trazer nossas alianças aqui no restaurante. Devem estar no bolso interno esquerdo do paletó caqui do Matheus Ricardo. Tá pendurado na poltrona do quarto. Como? - Silêncio - Como assim? - Silêncio - Como assim, D. Jacintha? – Maura Rubia rompia em lágrimas – O que a senhora está me dizendo, D. Jacintha? A senhora não pode terminar o namoro desse jeito! A senhora nunca me amou, foi isso... Eu não sou boa o suficiente! Ah, que ótimo, então me dê um bom motivo! Não vou falar com ele, a senhora é que se explique. Tem outra nora na sua vida, D. Jacintha? Vai! Fala na cara! Tem ou não tem? Por que se a senhora acha que...
O garçom na cozinha cuspia no prato da cliente que havia reclamado do excesso de sal.
O entregador, que esperava por um pedido do lado de fora do restaurante, observava o sistema de alarmes pensando em chamar os amigos para um assalto a mão-armada na noite seguinte. Pensava se teria ou não de atirar no gerente.
O senhor de óculos da mesa da esquerda cutucava o nariz e lambia os dedos.
O casal da mesa da direita comia em silêncio e não trocava olhares, sequer palavras. Ele pensava na amante esperando no quarto de motel e ela pensava no anel de diamantes que pediria de Natal, no vestido D&G que havia visto na vitrine, nas mãos do massagista e no preço exorbitante do asilo onde colocaria seu pai recém-viúvo em duas semanas. Pensava também se contaria para ele antes, ou não.
A faxineira que limpava os cacos da mesa dos fundos cortava os dedos e se envergonhava por sentir dor em frente aos clientes.
O gerente embolsava disfarçadamente as gorjetas dos garçons.
O chef, assim como Maura Rubia, gozava o grito da lagosta que acabava de colocar na água fervente e pensava o motivo pelos quais as pessoas eram tão avessas ao desmatamento mundial.
E Matheus Ricardo... Bem, Matheus Ricardo se escondia atrás do guardanapo e fugia dos olhares e dos dedos indicadores de todos os clientes e funcionários daquele restaurante. Naquele momento, pedia somente que Deus acabasse com tudo aquilo, e que quando recriasse o mundo, desse uma turbinada na sensatez emocional das mulheres.
Deus Todo Poderoso, ele mesmo, por sua vez, olhava aquela cena patética e pensava: “Que bela merda que eu fiz! Que tédio, realmente! Esse mundinho está tão estragado, que mesmo para tirar minha bunda da cadeira para acabar com tudo, tenho preguiça! Gosto muito da idéia daquele Matheus Ricardo. Só não gosto do nome... A gente faz tão bem feito e a mãe acaba com o glamour... Mas se não fosse eu, quem mais poderia fazer esse serviço? Quem seria aquela pessoa que chegaria em meio à Total Inexistência? Será que mato o tal Matheus agora mesmo para perguntar a ele? Será que adiantaria? Ele viria para cá, ou serviria O Lá De Baixo? Vou pedir pra Maria levantar a ficha dele...”
Andava pra lá e pra cá, agoniado mesmo. Chega, então, o anjo Sensatel, o que acaba gerando em Deus aquela conhecida sensação de déjà vu. Nem deu bola! Como ele havia criado tudo, tudo para ele era déjà vu!
- Ó Deus Todo Poderoso quanto ali na terra quanto aqui no céu, tá agoniado desse jeito por quê?
E etc, etc, etc...
O final dessa história você já conhece.
Chegue mais perto do começo dela aqui! Mas só amanhã!
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3 comentários:
Viagem, meu querido.
Viagem das boas.
E não é que a picanha apareceu?
Hahahaha
Quero só ver o que vem prá mim amanhã.
Beijoooooo
HA HA HA.
A-DO-REI.
De verdade, hahahaha.
Agora, pra terminar, ou melhor, começar, fudeu!! Obrigada, seu caralho!!!
Caraca, a coisa está ficando abusada, não? Bom, vamos conferir como a Ma vai se virar hoje.
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