terça-feira, 13 de outubro de 2009

Folhetim Vagabundo - História 2 - Capítulo 3



Leia o início desta história aqui!

Capítulo 3

Leia ouvindo isso: http://www.youtube.com/watch?v=O_cLZD0-oNo

Odair segurava com firmeza o pescoço do irmão. Podia sentir cada gomo de sua traquéia.
- Que merda, Cosmo! Te disse que a Sonia era só minha, cara. Que merda! Por que você tem sempre que tomar tudo que é meu, cara? Por que?
Cosmo tentava se esquivar, tentava puxar o ar para poder falar, mas não podia. Sentia a pressão de seus olhos aumentando rapidamente. Estranhava aquela sensação. Olhava para Odair e se via. Era como se ele mesmo estivesse se enforcando. Eram realmente idênticos. Cada marca, cada fio de cabelo, cada expressão. Por um momento, quase achou graça. Encarou Odair no fundo dos olhos e foi aos poucos percebendo a mudança no humor do irmão.
Odair tinha a mesma sensação. Matar o irmão gêmeo seria o mesmo que um suicídio. Ao ver seu próprio rosto odioso refletido nos olhos de Cosmo, assustou-se. Tornava-se seu pai.

*************************

Era uma tarde quente, 16 de fevereiro de 1991. “É no chuê, chuê. É no chuê, chuá. Não quero nem saber. As águas vão rolar.” As rádios tocavam repetidamente o samba enredo da escola campeã, que iria desfilar novamente naquela noite. Honório na churrasqueira, Cosmo e Odair na piscina, disputando uma bóia, e Odete, a mãe dos gêmeos, passando coca-cola no corpo para se bronzear.
- Tá saindo a picanha!
- Ai, Honório, picanha de novo?
- Não se preocupe, Odete. Essa é argentina. De altíssima qualidade. Sei que você adora tango.
Calmamente, com a peça de picanha inteira espetada no garfo de churrasqueiro, Honório chegou perto da piscina.
- Comam, seus cães!
Jogou a picanha na água e partiu violentamente em direção a Odete. Ergueu-a da espreguiçadeira pelo pescoço e enfiou sua cabeça na piscina.
- Eu odeio argentinos! Tá vendo essa carne aí no fundo? Esses bastardos vão comer agora o lombo do pai deles! Você e seu professor de tango vão dançar no inferno! Vadia!
“É no chuê, chuê. É no chuê, chuá. Não quero nem saber. As águas vão rolar.”
Cosmo e Odair viram por baixo d´água o vitrificar dos olhos da mãe.

*************************
- NÃO!
Odair gritou, soltando o pescoço do irmão.
- Não quero ser como ele!
Cosmo tentava recuperar o fôlego enquanto o abraçava.
- Tudo bem! Passou.
Odair chorava,
- Porra, Cosmo! Por que você faz isso? Pára de se passar por mim por aí. Pára de copiar minha vida!
- Eu te amo, cara! Te amo!
- Eu sei! Também te amo!
- A Sonia é minha, Cosmo. Faz cinco anos que eu vou lá no puteiro dela. Faz cinco anos que eu invento uma reunião em Itu toda terça-feira, só pra poder comer ela. Cheguei lá hoje e ela disse “Ué? Já? A gente não tinha marcado pra amanhã?”. Nunca vou lá nas quartas, cara! Nunca! É terça, cara. Sempre terça!
- Foi mal!
- Pára com isso, Cosmo! Pára!
- Vou parar. Eu juro!
- Tava ligando pra quem?
- Eu? Pra ninguém.
Já mais calmo, Odair entregou um pedaço de papel ao irmão.
- Olha só. Cheguei lá hoje e a Sonia disse que o enfermeiro da clínica do papai deixou esse papel com ela semana passada. Parece que o enfermeiro é traveco, trabalha na clínica de dia, e lá à noite. Acho que é a segunda pista. Você não quer mesmo ir atrás disso? Vou ter que fazer tudo sozinho?
- Cara, não curto esses joguinhos. Você sabe.
- Mas depois vai querer dividir a grana! Eu preciso de você, Cosmo. Você sabe!
Silêncio.
- Passa pra cá essa merda!

Minha terra só tem vermes
Meu pulmão não tem mais ar
No meu ânus tem um tubo
Quero ver quem vem buscar!


Com meio sorriso nos lábios, Cosmo disse:
- Vamos hoje?
- Onde? Eu não entendi a charada.

Odair sempre foi o músculo, e Cosmo o cérebro. Naquela mesma noite, invadiram o cemitério onde o pai estava enterrado. Cavando sozinho, sob supervisão de Cosmo, Odair exumou o corpo do pai, retirou a rolha que lhe tampava o ânus para que as secreções não vazassem e, lá no fundo, encontrou um tubo. Era o canudo da formatura de Honório. Dentro dele:

Sem diploma universitário vocês não chegarão a lugar algum. Mas parabéns por terem chegado até aqui. Vamos ver se esses cérebros argentinos servem para alguma coisa:

Examinem este corpo
Sob as unhas o que há?
Aquele que é enterrado com vida, suas marcas deixará!

- Enterrado com vida, Cosmo? Como assim? Ele estava morto! Eu vi, com meus próprios olhos.
- Calma!
- Você não foi ao funeral, mas eu vi!
Com um único chute, Cosmo virou a tampa do caixão de ponta cabeça. Arranhões. Muitos arranhões. Odair, agachado ao lado do corpo do pai, gritou, em desespero!

- Cosmo!! Não é ele!

Cosmo virou-se rapidamente e encarou o rosto do morto, que o deixou sem ar e aterrorizado!

- Cosmo!
- Calma, Odair. Preciso pensar!

O capítulo 4 você lê amanhã, aqui!

3 comentários:

Luli disse...

Puta merd! Que emocionanteeee!!! Vou ter que ler mas ums três vzes pra captar tudo. Ai que medo de terminar esta história!!!

Menininha bossa-nova disse...

Hahahahahahahahahahahaha...

Du, vc é muito tonto! Hahahaha. E muito bom. Adorei!!!

Helena... disse...

hahahaha canudo de formatura do cu do morto?! o morto não é o morto?! hahahaha traveco de noite?!?! picanha argentina??? só vc mesmo dudu, adorei hahahahaa