A rua hoje estava cheirando à Dona Olímpia. Um cheiro doce, mas não enjoativo.
Dona Olímpia era uma professora de Ciências da minha época de colégio. E o perfume dela ficava mais intenso em dias como hoje, dias frios mas não tanto, chuvosos mas não tanto. Dias de preguiça, em que a estática do ar é estranha, em que as pessoas falam baixo e pensam devagar.
Em dias assim, o ônibus ia dormindo. Podíamos ouvir as respirações. As pessoas ficavam mais nas salas de aula durante o recreio, e poucas corriam.
As aulas de Dona Olímpia eram sempre as últimas. E o perfume dela, aquele perfume de aconchego, me acompanhava de volta para casa, se misturava um pouco com o gosto do Todinho que eu preferia guardar para depois em dias como esses; dias como hoje. Dias que passavam calmamente, sem euforia nem tristeza, nem pretos nem brancos, dias comuns e gostosos, em que não havia obrigações de sairmos de dentro de nós mesmos.
Gostava de dias assim; gostava de Dona Olímpia; gostava de chegar em casa com sono e cansado, e não pensar em nada, e não me preocupar com isso.
Hoje, a rua estava cheirando à Dona Olímpia. Hoje, o dia estava calmo. Hoje, eu me fui essencial.
Um comentário:
Cheiros e sabores: deliciosas memórias afetivas!
Bjs
Dulce
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