A falta de assunto anda me atormentando nos últimos tempos. Estou realmente preocupado com meu embotamento de discurso.
É como se todos os assuntos me fossem enfadonhos. Como se não houvesse nada de novo nos mundos dos outros, e menos ainda no meu; ou como se meu mundo estivesse cada vez mais distante do mundo dos outros.
Que medo da psicose!
A mídia está um porre; o futebol nunca esteve no meu vocabulário; até falar mal dos alheios ficou sem graça. Discussões teóricas e filosóficas estão difíceis. Existe, no ar, uma certa preguiça de pensar. Ou talvez pensar seja mais fácil. Pensando bem, ando pensando mais do que falando. É isso. E estou sem muita paciência de compartilhar verbalmente estes meus pensamentos.
A energia e obrigatoriedade criativa estão sugando muitos destes pensamentos. E o pavor do inconsciente coletivo, das idéias roubadas e das cartas marcadas estão me transformando num avarento de assuntos. Lógico. Todo assunto, toda idéia, pode virar um texto, ou pode ser tema do meu próximo livro, ou da minha próxima peça, ou pode virar uma cena de algum espetáculo que estou dirigindo...
Trabalhar com idéias me transforma, a cada dia, em um monge frígido e egoísta. Ao mesmo tempo que este turbilhão de pensamentos me prende em uma ansiedade sem limites. Por onde começar? O que fazer primeiro? Melhor dar um tempo e ler um pouco. E a cada leitura mais um vendaval de sugestões e pensamentos, muitas vezes abstratos e sem sentindo, que podem transfigurar em uma latente obra de arte. Melhor guardar para mim!
A busca pelo destaque neste mundo de tantos de nós afasta a humanidade de si mesmo.
Ou será que minha vida, particular, está tão parada assim? Também pode ser isso. Nenhum grande evento, nenhum grande acontecimento, nenhuma grande novidade. Meu medo de envelhecer sempre girou em torno da carência de novidades. Às vezes dá vontade de ficar preso em uma bolha por algum tempo, para sair e ver o mundo com olhos infantis. Mas eu já faço isso. Na verdade, eu vejo muitas novidades por aí. As pessoas que não estão muito interessadas no meu olhar.
Onde isso vai dar? Que desespero. Até falar sobre a falta de assunto, que poderia ser um assunto interessante, está chato!
Que texto chato!!
Definitivamente, há textos que não devem, jamais, ser escritos pela manhã!
Um comentário:
Que tal um desafio?
Um texto(não importa o tamanho)onde as palavras: morte, tétrico, negro, gélido, pálido, fundo, fado e profano, apareçam num contexto alegre.
Será que dá?
Bjs
Dulce
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