segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Metro II

Sofia está tendo pesadelos e não me deixa dormir. Estou preocupado! Faz mais ou menos dois meses que acordo no meio da noite com o som da voz dela. Deu para falar enquanto dorme. Não consigo entender exatamente o que diz. Os sons parecem gemidos de dor, são mais do que palavras. Diz algo como camarões, humm, camarões!
Que eu saiba, ela é extremamente alérgica a camarões.
Em nosso casamento comi mais de quatro cascatas de camarões e, no auge de nossa noite de núpcias, tive de levá-la ao hospital. Recebeu duas injeções de adrenalina para que não sufocasse com o inchaço da própria glote. Depois, perguntei se ela havia comido algum camarão e ela, ofendida, respondeu: Você acha que sou estúpida? Tenho cara de otária?
Depois concluímos que a alergia tinha se dado devido aos meus beijos. Desde então, há cinco anos, sou proibido de comer camarões. Não por ela, por mim mesmo. Pelo seu bem!
Sou apaixonado por camarões. Eu que deveria sonhar com eles, não ela.
Mas nesta noite foi diferente. Acordei com os gritos dela. Fiquei paralisado no meu lado do colchão. Ouvi dizer que não devemos acordar ninguém no meio de um pesadelo. O sonhador pode morrer de parada cardíaca. Esperei passar. E passou. Passou em um esboço de sorriso que ela mantém até este momento. Dorme tranquila aqui, ao meu lado. Meu sono, por sua vez, está perdido em algum canto deste quarto.
Estou realmente preocupado com ela. Que os anjos a enlacem nesta noite.
Vou tomar um chá!

Um comentário:

Dulce Braga disse...

Dois pobres solitários!
bjs