terça-feira, 22 de setembro de 2009

Metro III

Minha noite foi realmente um inferno. Acordei completamente molhado às cinco e meia da manhã, depois de finalmente ter pegado no sono às cinco. Sofia estava parada ao meu lado, em pé. Havia despejado uma jarra inteira de suco de tomate apimentado em mim, com molho inglês em excesso e pouco limão. Parecia um zumbi; ela, não eu. Um olhar esbranquiçado, estático, com a jarra vazia na mão esquerda e a direita arrumando os fios de cabelo que estavam fora do lugar. Depois saiu lentamente, foi à biblioteca, guardou a jarra na prateleira de livros de auto-ajuda e voltou para a cama.
Esperei meia hora, retirei a roupa de cama e coloquei na máquina, deixando-a coberta com um manto de dança flamenca que ela guarda na gaveta de seu criado mudo. Na volta, arrumei novamente a cama com o jogo lilás de algodão egípcio.
Hoje pela manhã, ela estava ótima e nem tocou no assunto. Era como se nada houvesse acontecido. Pediu suco de laranja ao invés do de tomate, para meu alívio. Eu havia esquecido de repor a jarra. Saiu para trabalhar muito perfumada. O cheiro do perfume ainda está impregnado em mim.
Mal estou conseguindo trabalhar. Todos me olham assustados aqui no escritório. Devo estar com uma cara péssima, de olhos esbugalhados e queixo em prognatismo. Devo voltar às minhas planilhas. No intervalo do almoço, ligarei para o meu psiquiatra. Será sonambulismo?

Um comentário:

Menininha bossa-nova disse...

Hahahahahaha, tô adorando e doida pra ver onde vai dar...