As pessoas, atualmente, tentam escolher seus amores. Atenção: não escolher amar, mas escolher seus amores. E escolhem como quem procura a fruta perfeita numa quitanda, ou o doce mais apetitoso nas prateleiras dos supermercados. As pessoas estão tão habituadas a terem opções, a poderem comprar o que desejam e quando desejam, que trocam de caso como quem troca de roupa. E assim, aos poucos, têm cada vez menos chance de amar; de amar de verdade, não de achar que amam. Porque elas olham para si mais do que para o mundo. E nos parceiros que encontram, procuram por elas mesmas, e não a verdade do outro. E o mundo cada vez mais cheio, e as pessoas cada vez mais solitárias. Quanto maior a oferta, maior a exigência da perfeição. E a perfeição é, ora uma cópia daquele que narcisicamente busca a si mesmo, ora o ideal de si mesmo projetado naquele que é buscado.
E neste ritmo, as pessoas se isolam em si mesmas e nos seus “quase iguais”. O objetivo não é descobrir o novo mundo por trás de outra pessoa, mas sim moldar a outra pessoa ao que melhor se adequa a seus próprios mundos. Assim, podendo encontrar alguém quase pronto, melhor; dá menos trabalho. Eu mesmo pensava assim. Não só pensava, eu dizia; brincando, mas dizia: eu quero me namorar, quero achar alguém igual a mim. Brincava com o ideal dos leoninos, mas dizia. Que sorte! Que sorte não ter me encontrado desta forma.
E de pretensão em pretensão, de defesa em defesa, de boicote em boicote, as pessoas lá estão, se masturbando pensando em si mesmas, achando que o mundo é seu mundo, com medo do que desconhecem, julgando a torto e a direito, emburrecendo homeopaticamente, vazias, vazias, vazias, e procurando, procurando, procurando por elas mesmas, no lugar errado.
Olhando por este prisma, faz muito mais sentido a existência de tanta gente que gira seu mundo ao redor do ‘encontrar alguém‘, não faz?
terça-feira, 30 de setembro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
De novo, Inverno
Depois de chuvas e verões diversos, elas finalmente se separam. Elas que se viam uma na outra. Elas que juntas se fizeram.
E seguem em lados paralelos, que se ziguezagueiam vez em quando. Elas que se amavam na outra. Elas que juntas se desfizeram.
E quando em seus quartos, agora separados, se maquiam e se vestem, tomam cuidado com a cor do batom, e escolhem o vestido pensando no tom. Porque a outra está lá fora, em algum lugar, e os gostos são os mesmos, e as roupas são as mesmas.
E quando em seus espelhos, agora separados, se penteiam e se mascaram, tomam cuidado com a forma dos cabelos, e são pensativas ao cobrir os olhos. Porque a outra lá fora pode não estar, e os gostos são outros, e as roupas são feias.
E seguem nas oitavas dos cantos, desafinando vez em quando. Elas que agora se arrependem, de não ter aproveitado a chance que tiveram, de reaprender anualmente a se habituar com o inverno.
E seguem em lados paralelos, que se ziguezagueiam vez em quando. Elas que se amavam na outra. Elas que juntas se desfizeram.
E quando em seus quartos, agora separados, se maquiam e se vestem, tomam cuidado com a cor do batom, e escolhem o vestido pensando no tom. Porque a outra está lá fora, em algum lugar, e os gostos são os mesmos, e as roupas são as mesmas.
E quando em seus espelhos, agora separados, se penteiam e se mascaram, tomam cuidado com a forma dos cabelos, e são pensativas ao cobrir os olhos. Porque a outra lá fora pode não estar, e os gostos são outros, e as roupas são feias.
E seguem nas oitavas dos cantos, desafinando vez em quando. Elas que agora se arrependem, de não ter aproveitado a chance que tiveram, de reaprender anualmente a se habituar com o inverno.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Constatações de um sábado à noite
O cheiro do mar, à noite, é doce.
As Tetas da Fafá de Belém são tão grandes, que funcionam como lupas: podemos ver as veias azuladas que drenam sua libido para as pregas vocais.
O trânsito de São Paulo é desesperador, mas tem saídas; o trânsito do Rio é desesperador quando não tem saídas.
Minha amiga Juliana Palermo canta Todo Sentimento do jeito que eu gosto; Cristovão Bastos toca Todo Sentimento do jeito que eu gosto - lógico, a música é dele.
O túnel de São Conrado só tem mesmo luz no fim do túnel.
Eu ando me emocionando só com a idéia de poder criar.
Sérgio Britto talvez seja eu amanhã, tamanha a identificação.
Fafá de Belém é bandida e solta na vida.
Chico Buarque de Holanda me faz chorar pelo encantamento do fazer, mais que pelo conteúdo; mas também pelo conteúdo, dependendo do conteúdo e do dia, obviamente.
Os cariocas são, no geral e infelizmente, muito mal-educados.
É interessante estar em silêncio e só, para ouvir o tilintar do gelo no copo, como um guizo de cabrito, enquanto andamos pela sala, descalços, bebendo água.
Nada como fazer cocô no aconchego do sentir-se em casa, e de portas abertas.
Jazz contemporâneo mal-feito é demasiado chato.
Definitivamente, preciso a aprender a usar o Nextel.
O Rio é tão bonito à noite, quanto o é de dia! De dia, brilha a praia, à noite. brilham os morros. E os olhos... Ah, os olhos brilham sempre!
As Tetas da Fafá de Belém são tão grandes, que funcionam como lupas: podemos ver as veias azuladas que drenam sua libido para as pregas vocais.
O trânsito de São Paulo é desesperador, mas tem saídas; o trânsito do Rio é desesperador quando não tem saídas.
Minha amiga Juliana Palermo canta Todo Sentimento do jeito que eu gosto; Cristovão Bastos toca Todo Sentimento do jeito que eu gosto - lógico, a música é dele.
O túnel de São Conrado só tem mesmo luz no fim do túnel.
Eu ando me emocionando só com a idéia de poder criar.
Sérgio Britto talvez seja eu amanhã, tamanha a identificação.
Fafá de Belém é bandida e solta na vida.
Chico Buarque de Holanda me faz chorar pelo encantamento do fazer, mais que pelo conteúdo; mas também pelo conteúdo, dependendo do conteúdo e do dia, obviamente.
Os cariocas são, no geral e infelizmente, muito mal-educados.
É interessante estar em silêncio e só, para ouvir o tilintar do gelo no copo, como um guizo de cabrito, enquanto andamos pela sala, descalços, bebendo água.
Nada como fazer cocô no aconchego do sentir-se em casa, e de portas abertas.
Jazz contemporâneo mal-feito é demasiado chato.
Definitivamente, preciso a aprender a usar o Nextel.
O Rio é tão bonito à noite, quanto o é de dia! De dia, brilha a praia, à noite. brilham os morros. E os olhos... Ah, os olhos brilham sempre!
Lapa Brasil
Nesta noite, que em breve irei finalizar em sono cansado, posso dizer que fui ao centro do Brasil. Sim, eu estou sóbrio, e posso dizer que fui ao centro do Brasil. E o centro do Brasil, para minha surpresa, está no Rio de Janeiro; mais especificamente, na Lapa Carioca.
Já estive na Lapa diversas vezes, sempre de forma nostálgica, em busca daquela tal malandragem de navalha que ouvimos nas canções e lemos nos livros e peças por aí. À última vez que estive no Rio, fui novamente à Lapa e notei um fervilhar mais envenenado. Mas estava com amigos, e não pude fazer o que fiz hoje, sozinho: explorar.
Explorei a Lapa de cabo a rabo, em meio a mendigos, playboys, putas, gays, patricinhas, malandros, lésbicas e sapatões, punks, emos, hippies, ladrões, ambulantes, gringos de todo o mundo, e cheguei à conclusão de que, se hoje o Brasil tem algum centro, este centro está lá, na Lapa Carioca.
Não só pela miscigenação racial, sexual e cultural, mas também, e principalmente, musical. Em meios a milhões de boates e bares, colados lado a lado, podemos ouvir, em vinte passos, uma variedade musical que engloba samba de raiz, samba de favela, samba de roda, roda de samba, cocada, frevo, axé, pagode, funk carioca, funk funk mesmo, jazz, soul, rock heavy, rock melado, todos os tipos de música eletrônica, samba-enredo, e assim vai... Só não aparece o tal sertanejo universitário, o que mostra que o centro do Brasil é, ao menos, um pouco centrado.
E o mais interessante é que não dá nem vontade de entrar nas baladas. A rua ferve e pulsa sozinha. E é lotada por uma fauna espetacular.
Depois de perambular muito, até os pés e as costas gritarem, me percebi um pouco perdido na minha nacionalidade. Sentia que estava no centro do país, mas não conseguia encontrar exatamente a brasilidade que estava procurando. Lógico que não. Que constatação imbecil. Eu estava no meio dela. A brasilidade era tudo aquilo. A mistura. O bololô. O mexidão. A gororoba brasileira que tanto amo! Mas – pensava eu – se eu fosse um gringo e quisesse me sentir no Brasil, do que precisaria? E, pensando assim, passei em frente ao Carioca da Gema, uma espécie de casa de gafieira, e pelos graves que o bumbo latia lá de dentro, cheguei à conclusão de que, em meio a toda a diversidade brasileira, a única que unia a tudo e a todos era o bom e velho samba de terreiro, a verdadeira origem de toda a mistureba desta terra.
E assim, depois de sambar sozinho até as quatro da manhã, finalizei a noite voltando pra casa em um táxi onde só tocava música do Senhor, enquanto comia um acarajé tão fresco que era digno de trabalho. Mais brasileiro que isso, só dançando rumba com maracas e camisa de babados, e tendo como capital do país, mí Buenos Aires querido.
Já estive na Lapa diversas vezes, sempre de forma nostálgica, em busca daquela tal malandragem de navalha que ouvimos nas canções e lemos nos livros e peças por aí. À última vez que estive no Rio, fui novamente à Lapa e notei um fervilhar mais envenenado. Mas estava com amigos, e não pude fazer o que fiz hoje, sozinho: explorar.
Explorei a Lapa de cabo a rabo, em meio a mendigos, playboys, putas, gays, patricinhas, malandros, lésbicas e sapatões, punks, emos, hippies, ladrões, ambulantes, gringos de todo o mundo, e cheguei à conclusão de que, se hoje o Brasil tem algum centro, este centro está lá, na Lapa Carioca.
Não só pela miscigenação racial, sexual e cultural, mas também, e principalmente, musical. Em meios a milhões de boates e bares, colados lado a lado, podemos ouvir, em vinte passos, uma variedade musical que engloba samba de raiz, samba de favela, samba de roda, roda de samba, cocada, frevo, axé, pagode, funk carioca, funk funk mesmo, jazz, soul, rock heavy, rock melado, todos os tipos de música eletrônica, samba-enredo, e assim vai... Só não aparece o tal sertanejo universitário, o que mostra que o centro do Brasil é, ao menos, um pouco centrado.
E o mais interessante é que não dá nem vontade de entrar nas baladas. A rua ferve e pulsa sozinha. E é lotada por uma fauna espetacular.
Depois de perambular muito, até os pés e as costas gritarem, me percebi um pouco perdido na minha nacionalidade. Sentia que estava no centro do país, mas não conseguia encontrar exatamente a brasilidade que estava procurando. Lógico que não. Que constatação imbecil. Eu estava no meio dela. A brasilidade era tudo aquilo. A mistura. O bololô. O mexidão. A gororoba brasileira que tanto amo! Mas – pensava eu – se eu fosse um gringo e quisesse me sentir no Brasil, do que precisaria? E, pensando assim, passei em frente ao Carioca da Gema, uma espécie de casa de gafieira, e pelos graves que o bumbo latia lá de dentro, cheguei à conclusão de que, em meio a toda a diversidade brasileira, a única que unia a tudo e a todos era o bom e velho samba de terreiro, a verdadeira origem de toda a mistureba desta terra.
E assim, depois de sambar sozinho até as quatro da manhã, finalizei a noite voltando pra casa em um táxi onde só tocava música do Senhor, enquanto comia um acarajé tão fresco que era digno de trabalho. Mais brasileiro que isso, só dançando rumba com maracas e camisa de babados, e tendo como capital do país, mí Buenos Aires querido.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Amor Amor
É linda a capacidade do amor de se habituar com os regozijos que ele mesmo gera.
Meu amor nunca foi tão puro, tão amor e tão amado. Aquele amor que é solto, que plaina.
Livre de querer ter o que simplesmente é e precisa ser para poder ser o que é.
Preso apenas no sentimento mais verdadeiro de querer tanto o bem da pessoa amada, que parte o pão sem sequer pensar na falta que a metade presenteada fará. Mas que também nunca deixa de comer, pois precisa viver para assim poder amar.
Aquele amor que ri o riso do outro.
Aquele amor que abraça sem força, sem garras, mas com todo o tônus que o aconchego da alma pede.
Aquele amor que toca e não arranha, e que quando arranha é porque toca.
Aquele amor que gera a saudade, vive a saudade e mata a saudade, dia-a-dia.
Aquele amor que quer amar assim para sempre, que ama com os olhos, não com a pele, que ama com os pulmões, não com o coração.
Ah, aquele amor... Esse amor... Que não é meu amor, por não ser meu, por ser somente amor amor.
Meu amor nunca foi tão puro, tão amor e tão amado. Aquele amor que é solto, que plaina.
Livre de querer ter o que simplesmente é e precisa ser para poder ser o que é.
Preso apenas no sentimento mais verdadeiro de querer tanto o bem da pessoa amada, que parte o pão sem sequer pensar na falta que a metade presenteada fará. Mas que também nunca deixa de comer, pois precisa viver para assim poder amar.
Aquele amor que ri o riso do outro.
Aquele amor que abraça sem força, sem garras, mas com todo o tônus que o aconchego da alma pede.
Aquele amor que toca e não arranha, e que quando arranha é porque toca.
Aquele amor que gera a saudade, vive a saudade e mata a saudade, dia-a-dia.
Aquele amor que quer amar assim para sempre, que ama com os olhos, não com a pele, que ama com os pulmões, não com o coração.
Ah, aquele amor... Esse amor... Que não é meu amor, por não ser meu, por ser somente amor amor.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Perda
A cada lágrima escorrida, uma dor lancinante no peito.
Terrível é sentir a própria voz fazendo a outra voz tremer.
Vontade de voar atrás das palavras ditas, de recolhê-las e engoli-las ao que é sombrio e não-dito.
Desejo de apagar e reformular os gestos. De borrar os olhos pra que não se expressem tanto.
Correr atrás do tempo.
Pegar os cacos com as mãos desnudas, para que o sangue possa jorrar e, quem sabe assim, colá-los na forma que outrora foram.
Medo de jamais conseguir reconstruir. Medo das cicatrizes que causei. Medo de ter esquecido, ou pior, perdido algum pedaço, algum retalho.
Medo do pedido de desculpas não ser suficiente. E não é, eu sei. Não é porque para mim mesmo não está sendo.
Vergonha do impensado. Vergonha do impulsivo. Vergonha da impertinência.
Que o perdão possa um dia levar consigo qualquer rastro, qualquer resto, qualquer fiapo ou excesso da dor que um dia causei.
E se esta dor insistir em doer, que doa em mim mil vezes mais do que em quem sempre amei.
Terrível é sentir a própria voz fazendo a outra voz tremer.
Vontade de voar atrás das palavras ditas, de recolhê-las e engoli-las ao que é sombrio e não-dito.
Desejo de apagar e reformular os gestos. De borrar os olhos pra que não se expressem tanto.
Correr atrás do tempo.
Pegar os cacos com as mãos desnudas, para que o sangue possa jorrar e, quem sabe assim, colá-los na forma que outrora foram.
Medo de jamais conseguir reconstruir. Medo das cicatrizes que causei. Medo de ter esquecido, ou pior, perdido algum pedaço, algum retalho.
Medo do pedido de desculpas não ser suficiente. E não é, eu sei. Não é porque para mim mesmo não está sendo.
Vergonha do impensado. Vergonha do impulsivo. Vergonha da impertinência.
Que o perdão possa um dia levar consigo qualquer rastro, qualquer resto, qualquer fiapo ou excesso da dor que um dia causei.
E se esta dor insistir em doer, que doa em mim mil vezes mais do que em quem sempre amei.
Cristais Eduardo - Agora, O Fato!
Parece que nem tudo está intacto. Parece que, ainda assim, continuam tentando. Parece que tudo o que é digno, hora ou outra se cerca do que parece ser, e hora ou outra acaba sendo, abusivo. C´est la vie.
Reportagem sobre a Cristais Eduardo (link abaixo), enviada para mim pelo repórter Edmundo Oliveira Leite Junior. Ao Edmundo, obrigado!
http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid241086,0.htm
Reportagem sobre a Cristais Eduardo (link abaixo), enviada para mim pelo repórter Edmundo Oliveira Leite Junior. Ao Edmundo, obrigado!
http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid241086,0.htm
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Aos Emos que Amo
Me preocupo com aqueles que eu amo.
A preocupação muitas vezes beira a prepotência de pensar saber o que é melhor ou pior para o próximo. Beira, e às vezes acaba caindo. E isso será sempre assim. De todo modo, a minha linha de vida acabou me levando a eternos e constantes treinamentos na sutil arte da observação do outro, para fins terapêuticos ou artísticos, tanto faz, uma vez que tenho como foco, sempre, o desejo de melhorias na vida do observado. Posso falhar, como posso acertar.
E isto é para dizer que vejo, ao meu redor, pessoas queridas se emaranhando em teias e tramas de sentimentos depressivos e depreciativos, pensamentos distorcidos por carências da alma, atitudes destrutivas e viciadas, e o que é pior, procurando, inconscientemente ou não, o convívio com pessoas que só catalisam e potencializam suas amarras.
O meu desespero e cansaço é perceber nestes que amo um movimento contrário ao que os faz crescer, uma vez que é este o principal objetivo da crise. A sensação que tenho é que estão mergulhando cada vez mais fundo e nem tentam nadar em busca de uma tomada de ar. Parece que se apóiam uns nos outros e procuram terceiros com quem possam, como os jovens emos neo-existencialistas, criar aos poucos uma sociedade da melancolia, dos infortúnios, uma sociedade da desilusão, permeada por laços de lágrimas e de abandonos.
Aos que eu amo, e por tudo que sinto, desejo que carreguem suas cruzes com mais classe. Que não deixem de sofrer, se o sofrimento é realmente necessário, pois isso pode empobrecer o espírito, mas que possam rir mais, não dos outros, mas de si próprios, e hoje, sabendo que amanhã é exatamente isso que farão. Desejo que percebam que aqueles que só os confortam no estado em que estão, causam somente o malefício da repetição do nada. Que notem que as mudanças devem ser dolorosas para serem realmente mudanças. Que saiam de suas zonas de conforto, que olhem para cima e sorriam, e dancem ao som do silêncio que os habitam, e que bebam suas próprias lágrimas, para que estas não sejam derramadas em vão.
Desejo que passem pelos estreitamentos dos renascimentos da vida com a mesma audácia com que vieram ao mundo, e que chorem como da primeira vez, pela dor do ar escancarando seus pulmões e os preenchendo com a beleza e alegria de estarem vivos.
A preocupação muitas vezes beira a prepotência de pensar saber o que é melhor ou pior para o próximo. Beira, e às vezes acaba caindo. E isso será sempre assim. De todo modo, a minha linha de vida acabou me levando a eternos e constantes treinamentos na sutil arte da observação do outro, para fins terapêuticos ou artísticos, tanto faz, uma vez que tenho como foco, sempre, o desejo de melhorias na vida do observado. Posso falhar, como posso acertar.
E isto é para dizer que vejo, ao meu redor, pessoas queridas se emaranhando em teias e tramas de sentimentos depressivos e depreciativos, pensamentos distorcidos por carências da alma, atitudes destrutivas e viciadas, e o que é pior, procurando, inconscientemente ou não, o convívio com pessoas que só catalisam e potencializam suas amarras.
O meu desespero e cansaço é perceber nestes que amo um movimento contrário ao que os faz crescer, uma vez que é este o principal objetivo da crise. A sensação que tenho é que estão mergulhando cada vez mais fundo e nem tentam nadar em busca de uma tomada de ar. Parece que se apóiam uns nos outros e procuram terceiros com quem possam, como os jovens emos neo-existencialistas, criar aos poucos uma sociedade da melancolia, dos infortúnios, uma sociedade da desilusão, permeada por laços de lágrimas e de abandonos.
Aos que eu amo, e por tudo que sinto, desejo que carreguem suas cruzes com mais classe. Que não deixem de sofrer, se o sofrimento é realmente necessário, pois isso pode empobrecer o espírito, mas que possam rir mais, não dos outros, mas de si próprios, e hoje, sabendo que amanhã é exatamente isso que farão. Desejo que percebam que aqueles que só os confortam no estado em que estão, causam somente o malefício da repetição do nada. Que notem que as mudanças devem ser dolorosas para serem realmente mudanças. Que saiam de suas zonas de conforto, que olhem para cima e sorriam, e dancem ao som do silêncio que os habitam, e que bebam suas próprias lágrimas, para que estas não sejam derramadas em vão.
Desejo que passem pelos estreitamentos dos renascimentos da vida com a mesma audácia com que vieram ao mundo, e que chorem como da primeira vez, pela dor do ar escancarando seus pulmões e os preenchendo com a beleza e alegria de estarem vivos.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Cristais Eduardo
Nos arredores de minha casa existem três grandes obras, de três altos prédio, imponentes, que em breve surgirão.
Acordo todos os dias com o bate-estacas gritando, fazendo tremer o chão onde piso.
Hoje, passando mais perto, enfrentando de frente os gigantes que estão por vir, percebi, na exata interseccção das três construções, um casa ainda menor que a minha. Não apenas uma casa, uma loja. Pensei como ela estaria sobrevivendo aos maiorais quando, olhando bem, vi que não era uma loja qualquer. Era uma loja de cristais finos. Finos, finos, bem finos. E intactos aos terremotos das máquinas que os cercam. Sem um trinco, uma lasca, uma rachadura sequer.
E, como o fato não poderia se tornar mais simbólico, notei o nome da loja: Cristais Eduardo.
C´est la vie!
Acordo todos os dias com o bate-estacas gritando, fazendo tremer o chão onde piso.
Hoje, passando mais perto, enfrentando de frente os gigantes que estão por vir, percebi, na exata interseccção das três construções, um casa ainda menor que a minha. Não apenas uma casa, uma loja. Pensei como ela estaria sobrevivendo aos maiorais quando, olhando bem, vi que não era uma loja qualquer. Era uma loja de cristais finos. Finos, finos, bem finos. E intactos aos terremotos das máquinas que os cercam. Sem um trinco, uma lasca, uma rachadura sequer.
E, como o fato não poderia se tornar mais simbólico, notei o nome da loja: Cristais Eduardo.
C´est la vie!
À Noite
A lua, ontem, era de fino traço. Era adornada por pequenos pontos.
O ar ventava, mas o vento estava parado.
Os passos, meus e de outros, ecoavam sobre viadutos.
Os gatos, pardos, cruzavam seus sentidos.
Assim são as noites banhadas pelo meu olhar.
São cenários varridos e brilhantes, de energia estática e expectante.
Minhas noites são meus palcos.
É à noite que renasço diariamente. É quando visto minha máscara preferida. É quando de elegância lavo meus trajes.
E escolho desfilar por onde passo, sobre pés ou rodas. E me incluo na vida pulsante. E enxergo melhor, porque a luz é melhor. E corro, e salto, e latejo.
É à noite que minha voz está afinada, que entôo meus pensamentos em cânticos. É quando sigo ereto e enxáguo, com meus hormônios, tudo que minha alma consegue ver.
É quando dou cria às sinapses, quando acasalo os insights, quando sorrio pelo peito para poder beijar com a boca.
À noite sou mais fálico, maníaco, mais bicho e mais humano. Sonho sem dormir. Viajo sem sair.
Que o sol brilhe sempre, para poder se pôr.
As noites serão, sempre, e já são, só minhas.
Pobres os santos, donos apenas dos dias.
O ar ventava, mas o vento estava parado.
Os passos, meus e de outros, ecoavam sobre viadutos.
Os gatos, pardos, cruzavam seus sentidos.
Assim são as noites banhadas pelo meu olhar.
São cenários varridos e brilhantes, de energia estática e expectante.
Minhas noites são meus palcos.
É à noite que renasço diariamente. É quando visto minha máscara preferida. É quando de elegância lavo meus trajes.
E escolho desfilar por onde passo, sobre pés ou rodas. E me incluo na vida pulsante. E enxergo melhor, porque a luz é melhor. E corro, e salto, e latejo.
É à noite que minha voz está afinada, que entôo meus pensamentos em cânticos. É quando sigo ereto e enxáguo, com meus hormônios, tudo que minha alma consegue ver.
É quando dou cria às sinapses, quando acasalo os insights, quando sorrio pelo peito para poder beijar com a boca.
À noite sou mais fálico, maníaco, mais bicho e mais humano. Sonho sem dormir. Viajo sem sair.
Que o sol brilhe sempre, para poder se pôr.
As noites serão, sempre, e já são, só minhas.
Pobres os santos, donos apenas dos dias.
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