Nesta noite, que em breve irei finalizar em sono cansado, posso dizer que fui ao centro do Brasil. Sim, eu estou sóbrio, e posso dizer que fui ao centro do Brasil. E o centro do Brasil, para minha surpresa, está no Rio de Janeiro; mais especificamente, na Lapa Carioca.
Já estive na Lapa diversas vezes, sempre de forma nostálgica, em busca daquela tal malandragem de navalha que ouvimos nas canções e lemos nos livros e peças por aí. À última vez que estive no Rio, fui novamente à Lapa e notei um fervilhar mais envenenado. Mas estava com amigos, e não pude fazer o que fiz hoje, sozinho: explorar.
Explorei a Lapa de cabo a rabo, em meio a mendigos, playboys, putas, gays, patricinhas, malandros, lésbicas e sapatões, punks, emos, hippies, ladrões, ambulantes, gringos de todo o mundo, e cheguei à conclusão de que, se hoje o Brasil tem algum centro, este centro está lá, na Lapa Carioca.
Não só pela miscigenação racial, sexual e cultural, mas também, e principalmente, musical. Em meios a milhões de boates e bares, colados lado a lado, podemos ouvir, em vinte passos, uma variedade musical que engloba samba de raiz, samba de favela, samba de roda, roda de samba, cocada, frevo, axé, pagode, funk carioca, funk funk mesmo, jazz, soul, rock heavy, rock melado, todos os tipos de música eletrônica, samba-enredo, e assim vai... Só não aparece o tal sertanejo universitário, o que mostra que o centro do Brasil é, ao menos, um pouco centrado.
E o mais interessante é que não dá nem vontade de entrar nas baladas. A rua ferve e pulsa sozinha. E é lotada por uma fauna espetacular.
Depois de perambular muito, até os pés e as costas gritarem, me percebi um pouco perdido na minha nacionalidade. Sentia que estava no centro do país, mas não conseguia encontrar exatamente a brasilidade que estava procurando. Lógico que não. Que constatação imbecil. Eu estava no meio dela. A brasilidade era tudo aquilo. A mistura. O bololô. O mexidão. A gororoba brasileira que tanto amo! Mas – pensava eu – se eu fosse um gringo e quisesse me sentir no Brasil, do que precisaria? E, pensando assim, passei em frente ao Carioca da Gema, uma espécie de casa de gafieira, e pelos graves que o bumbo latia lá de dentro, cheguei à conclusão de que, em meio a toda a diversidade brasileira, a única que unia a tudo e a todos era o bom e velho samba de terreiro, a verdadeira origem de toda a mistureba desta terra.
E assim, depois de sambar sozinho até as quatro da manhã, finalizei a noite voltando pra casa em um táxi onde só tocava música do Senhor, enquanto comia um acarajé tão fresco que era digno de trabalho. Mais brasileiro que isso, só dançando rumba com maracas e camisa de babados, e tendo como capital do país, mí Buenos Aires querido.
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