segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Metro I

Querido diário,

ando angutiado, solitário e medroso. Sofia está trabalhando demais e não tem mais tempo para mim. Ontem a noite, depois de comprar um sapato argentino irresistível no shopping, passei no empório e comprei alcachofras e sorvete de pistache. São os pratos favoritos dela. Comprei um Bordeaux incrível e esperei com o jantar à mesa até as onze da noite. Ela chegou exausta e nem notou o sapato novo. Quando lhe chamei a atenção, disse que era preto como todos os outros. O mesmo aconteceu semana passada com a gravata italiana vermelha que comprei na Armani do Free Shop. Não sei o que está acontecendo com ela. Deve estar com muitos problemas no trabalho, tadinha. Faz tempos que passou a ir somente duas vezes por semana ao cabeleireiro. Apesar disso, continua linda como quando nos conhecemos. Aliás, semana que vem, comemoramos cinco anos de casados. Estou pensando em levá-la ao Nordeste, a um spa-resort ultra-romântico.

Quanto ao meu trabalho, está tudo ótimo. Minha posição está estável e o salário... prefiro nem falar nada para não afastar a sorte. Bato três vezes na madeira.

Amo Sofia como nunca amei! Ela acaba de me dizer que trará a Michele para jantar aqui em casa amanhã. Pediu para eu fazer o roastbeef. Disse boa noite. Boa noite, meu amor. Descansa!

A Michele é sua melhor amiga e confidente. Vão juntas a todos os cantos. Confesso ter um pouco de ciúme dela, mas entendo a necessidade que ela tem de sair com as amigas, tricotar e jogar conversa fora. Nós homens pouco somos capazes de entender as maravilhas e mistérios da alma feminina.

Bom, devo ir dormir também. É a chance que tenho de estar ao seu lado ultimamente. Além disso, minhas olheiras estão profundas. Até amanhã.