terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Verídico e Tolo

Sento-me ao som dos Gerschwins.
Elizângela toma meu pedido. Concentro-me nas notas do piano. Peço uísque.
De repente, não mais que de repente, ouço uma voz rouca e pastosa.
Nossa, como você é lindo! Que gato!
Olho à minha volta e penso: Será comigo?
De vez em quando tenho estes ímpetos de modéstia plena.
Lá está ela, artificialmente loira, exageradamente maquiada e alzheimermente envelhecida, sentada à mesa a frente, na companhia de outras figuras igualmente esdrúxulas.
Você é sempre gostoso assim ou é só hoje?
Essa mulher poderia ser minha avó!
Como?
Você sabe que é um gato, não sabe? Ah, sabe, ele sabe.
Isto não está acontecendo. Não com a biza da Rita Cadilac.
Viu, sabe de uma coisa? Eu estou bêbada!!
Ah vá!
Você não é daqui, é?
Não
ponto
Sou de São Paulo
ponto
Vem cá, vem.
Pânico.
Senta aqui com a gente. Você vai adorar.
Não quero mais olhar para minha avó depois disso.
Não, obrigado. Eu vou comer.
Uau!!
Jantar!! Eu vou jantar.
Pra quê? Só serve pra engordar.
Há! Falou a Bündchen.
Não, é bom de vez em quando.
Resposta cretina para comentário cretino.

Silêncio.

Silêncio.

Silenc...

Você tem fogo?
Danada, acabou de acender um cigarro. Eu vi!
Tó!
Aaaaai, obrigadinha.
Voz pastosa.
Nojo.
Você conhece o Postinho?
Meu
Deus
Não.
Você não é daqui, é?
Raiva.
São Paulo.
Você não conhece o Postinho?
Meu
Deus.
O que seria este Postinho? Um asilo de idosas da vida? Mulheres com mamilos nos joelhos e mãos deformadas por artrite, batom borrado, brincando com a prótese dentária para cima e para baixo, para cima e para baixo, e babando, babando...
A comida chega. Só consigo dar duas garfadas.
Vamos pro Postinho! Vou te mostrar Vitória inteirinha!!
Como?
Digo, hein? Agora?
Pavor.
Right now.
Sim, ela falou inglês!
Agora não posso.
Como quem diz: quem sabe outro dia… Há!
Vou ao banheiro. Você sabe, né!
NÃO!!! Não sei!! Não quero saber!! Meu Salmão já virou Buchada, Gerschwin já virou Harmonia do Samba!
Aproveito a deixa, pago a conta e fujo. Fujo! Run, Forrest! Run!!

E pronto. A história acaba assim mesmo. Final sem graça pra caramba. Episódio bobo, na verdade. Não sei nem se merecia ter virado texto. Se leu até agora, perdeu tempo. E continua lendo. E assim, vai... Que falta do que fazer, hein..




E ainda está lendo... Quanta bobagem...E você, caro leitor? Conhece o Postinho? E a vida, está atarefada? Sei... Até onde vai isso, me pergunto. Digo, essa leitura banal. Garanto que não vai levar a nada. Garanto mesmo! Pode acreditar. Se quiser continuar lendo, fique à vontade. Continuo escrevendo.


Continuo...


Continuo...


Continuo...


Pelo menos até cans...

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