Há seis meses estou envolvido em uma reforma. A busca pela morada ideal. Um trabalho que, confirmando o mito, deveria ter durado dois meses e já beira os sete. Mas não estou aqui para desabafar histórias de pedreiros, marceneiros, serralheiros, eletricistas, pintores, azulejistas, telhadistas e vidraceiros. Estou aqui, pois a reforma está chegando ao fim, e começa a brotar em mim um medo razoável do depois. A busca pela forma, pelo conforto e pela luz certa em cada cômodo de minha nova casa, deixará de ser muleta para a minha busca, de mim mesmo. É tão difícil decidir... As cores, os móveis... O que combina com o que, do que eu gosto ou desgosto, o aval do feng shui para que tudo seja perfeito. Estou construindo um templo de bem estar. Uma gruta da felicidade, onde eu me sinta completamente protegido do mundo mau e triste lá de fora.
Como tudo em mim, o que era para ser cotidiano virou uma obsessão.
E entre livros e revistas de decoração, em meio às minhas incertezas e inseguranças de um não-graduado em design de interiores, inicio o processo de encaixotar minha vida passada, para transportá-la para a vida futura – a que será abençoada pelas boas energias, que me trarão tudo o que eu vier a sonhar. E, ao som viciado do trompete de Chet Baker, começo a perceber a certeza de que vou levar comigo, meu passado. Subitamente, sou eu mesmo a grande ameaça. Por mais que faça o exercício de me livrar do que é obsoleto e inútil, por mais que eu queira encaixotar somente a minha essência, percebo que partes importantes desta essência já são obsoletas.
Como levar o futuro que ainda não há?
E então, começo a suspeitar que esta nova morada, que já me causou tanta dor de cabeça e pressa para que fosse eternamente novidade, será muito parecida com a antiga. Continuarei ouvindo Chet Baker. Continuarei sentado na mesma cadeira que estou agora e escrevendo na mesma máquina. Continuarei buscando temperos excêntricos na minha gastronomia. Continuarei observando com orgulho minha biblioteca, e feliz por poder escolher o livro que eu quiser ler ou reler no momento em que eu quiser. Terei móveis novos, está certo. Mas os móveis novos serão apenas uma nova pele para a alma que já existe. E ao mesmo tempo que esta reflexão me acalma, não posso negar que me frustra um pouco. É como ter construído um moderno parque de diversões repleto de brinquedos já vivenciados.
De qualquer forma, esta essência terá, na nova pele, um outro brilho. A poeira será retirada e substituída pelo pó de outros ares. A luz, certamente, será outra. E que a alma se expanda e ocupe com vigor cada cômodo deste novo teto. Em breve – se o vidraceiro realmente aparecer segunda-feira - teremos novos arranjos para a velha música de Chet.
5 comentários:
Se você conseguir MANTER O ESPIRITO DE NATAL, não vai ter Feng Shui, nem cor, nem luz, nem móveis, nem "gentes", nem medos, que tirem o brilho, a alegria, a harmonia, a paz e a felicidade de viver nesse "casulo".
Bjs
Dulce
Oi Edú!
Adorei seu blog! Você escreve muito bem...
À você, desejo muita paz, amor e saúde! E que sua vida na casa nova seja muito muito feliz!!
Sucesso, meu querido!!! Tim, tim!!
Beijo grande,
Mariangella
Eduardo de Santhiago, passei aqui no seu Blog... gostei da explicação de abertura de Blog que recebi por email. Pelo ócio, pela orbigatoriedade, pela expressão...
Beijo enorme e vou continuar visitando seu espaço.
Du,
mude tudo:
moveis, cores, luzes, ares, formas...
só naõ mude VOCÊ!!!!!!
que tenho certeza que vai ser muuuuuito feliz.
Te amo
"Tia"
Oi Dú, que saudade. Bem, sem dúvidas sou sua fã e adoro Chet Baker, então me convide pra ouvir os novos arranjos quando ficarem prontos, ok.
Que o Todo-Poderoso cubra de bençãos seu novo lar!
Um Beijo Grande. Carol:)
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